Revista Parêntese

Editorial: Parêntese 17

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Editorial: Parêntese 17 Não tem faltado evocação de clássicos da literatura para falar da atual pandemia. Entre os mais lembrados estão A peste, de Albert Camus, o recente Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, e o remoto Decamerão, de Bocaccio. (Nessa matéria, em particular, quem se sai melhor em toda a imprensa brasileira, digamos sem falsa nem verdadeira modéstia, é a nossa Cláudia Laitano. Confere ali em seguida.)  Tudo isso pra dizer que eu lembrei de outra referência, não a uma peste, mas a um peste, desculpado o trocadilho elementar. Uns 450 anos atrás, em 1572, saiu impresso um livro que mudaria o destino da língua em que vivemos: Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões. Um livro enciclopédico, um plano de voo futuro do português como língua e povo, uma epopeia para cantar o “peito ilustre lusitano”, que havia conquistado meio mundo, sendo um país pequeno, quase nenhuma riqueza natural, nem mesmo população abundante. Gente destemida, que afrontou os limites conhecidos de seu universo, com ambição e diligência.  E lá está, no Canto III, estrofe 138, o verso final, uma pérola a ser lembrada aqui e agora. Camões está lamentando um caso particular, um rei que havia sido bom mas que fora sucedido por um rei omisso. Conclui o poeta: “Que um fraco rei faz fraca a forte gente”. Repita em voz alta, que o efeito é melhor ainda. Camões não era profeta: era, além de poeta, um bom observador da vida.  (Para rimar com ele, Parêntese traz, pela primeira e não última vez, a tradução de um soneto de Shakespeare pelo professor Élvio Funck. O Luiz português e o William inglês não se conheceram, embora tenham respirado o ar do planeta ao mesmo tempo, por uns anos – o primeiro viveu entre 1524 e 1580, provavelmente, e o segundo entre 1564 e 1616. Agora, nada impede que a gente os emparelhe e usufrua da beleza que eles legaram.) Parêntese, assim como todo o Grupo Matinal Jornalismo, se regula por algumas convicções, simples e diretas. Uma delas é o esforço para olhar a vida desde o ângulo da sociedade. Nosso assunto é qualquer um – política, economia, cultura, educação, urbanismo, esporte –, mas nossa âncora é a sociedade, em sua dinâmica, suas virtudes e limites. Agora, nessa crise inédita, estamos mais uma vez tentando ver o mundo com essa lente. Mas somamos nossa força, em textos e imagens, à vontade geral de sair do buraco da maneira mais adequada possível.  (Ah, não custa enfatizar: Parêntese vai por um email, mas não precisa ser lida como se fosse apenas um email. Leia um texto agora, outro depois, outro mais adiante. Temos toda uma semana entre duas edições. Agora isolados em nossas casas.) Na entrevista, vamos ouvir Eliane Brum, uma voz incontornável de nosso tempo. Gaúcha de Ijuí, com passagem por vários jornais, revistas e sites, autora de livros cada vez mais importantes, no Brasil e fora dele, ela agora vive em Altamira, no coração da Amazônia, que ela considera o coração do […]

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Não tem faltado evocação de clássicos da literatura para falar da atual pandemia. Entre os mais lembrados estão A peste, de Albert Camus, o recente Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, e o remoto Decamerão, de Bocaccio. (Nessa matéria, em particular, quem se sai melhor em toda a imprensa brasileira, digamos sem falsa nem verdadeira modéstia, é a nossa Cláudia Laitano. Confere ali em seguida.)  Tudo isso pra dizer que eu lembrei de outra referência, não a uma peste, mas a um peste, desculpado o trocadilho elementar. Uns 450 anos atrás, em 1572, saiu impresso um livro que mudaria o destino da língua em que vivemos: Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões. Um livro enciclopédico, um plano de voo futuro do português como língua e povo, uma epopeia para cantar o “peito ilustre lusitano”, que havia conquistado meio mundo, sendo um país pequeno, quase nenhuma riqueza natural, nem mesmo população abundante. Gente destemida, que afrontou os limites conhecidos de seu universo, com ambição e diligência.  E lá está, no Canto III, estrofe 138, o verso final, uma pérola a ser lembrada aqui e agora. Camões está lamentando um caso particular, um rei que havia sido bom mas que fora sucedido por um rei omisso. Conclui o poeta: “Que um fraco rei faz fraca a forte gente”. Repita em voz alta, que o efeito é melhor ainda. Camões não era profeta: era, além de poeta, um bom observador da vida.  (Para rimar com ele, Parêntese traz, pela primeira e não última vez, a tradução de um soneto de Shakespeare pelo professor Élvio Funck. O Luiz português e o William inglês não se conheceram, embora tenham respirado o ar do planeta ao mesmo tempo, por uns anos – o primeiro viveu entre 1524 e 1580, provavelmente, e o segundo entre 1564 e 1616. Agora, nada impede que a gente os emparelhe e usufrua da beleza que eles legaram.) Parêntese, assim como todo o Grupo Matinal Jornalismo, se regula por algumas convicções, simples e diretas. Uma delas é o esforço para olhar a vida desde o ângulo da sociedade. Nosso assunto é qualquer um – política, economia, cultura, educação, urbanismo, esporte –, mas nossa âncora é a sociedade, em sua dinâmica, suas virtudes e limites. Agora, nessa crise inédita, estamos mais uma vez tentando ver o mundo com essa lente. Mas somamos nossa força, em textos e imagens, à vontade geral de sair do buraco da maneira mais adequada possível.  (Ah, não custa enfatizar: Parêntese vai por um email, mas não precisa ser lida como se fosse apenas um email. Leia um texto agora, outro depois, outro mais adiante. Temos toda uma semana entre duas edições. Agora isolados em nossas casas.) Na entrevista, vamos ouvir Eliane Brum, uma voz incontornável de nosso tempo. Gaúcha de Ijuí, com passagem por vários jornais, revistas e sites, autora de livros cada vez mais importantes, no Brasil e fora dele, ela agora vive em Altamira, no coração da Amazônia, que ela considera o coração do […]

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