Revista Parêntese

Editorial: Parêntese 19

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Editorial: Parêntese 19 Reza uma antiga lenda estadual que Júlio de Castilhos, o chefe da Primeira República entre nós, mandachuva geral e patrono de Borges de Medeiros, morreu acusando falta de ar. A forma redonda da história é assim: era outubro de 1903 e Júlio estava com dores acentuadas de garganta. Estava já fora do poder executivo: tinha encerrado em 1898 seu período na presidência do Estado (como se chamava o cargo do atual governador), mas ainda comandava o Partido Republicando Riograndense, o PRR.  Chama o doutor Protásio Alves, correligionário; este o examina e diz que precisará fazer uma operação. O médico exorta o paciente: “Presidente, o senhor vai precisar de coragem!” Júlio responde: “Coragem eu tenho; o que me falta é ar”. E morreu. Castilhos era jovem. Tinha apenas 43 anos.  Morto, deixou o caminho aberto para uma trilha de décadas de autoritarismo, que ele mesmo protagonizara até ali, com vários cadáveres pelo caminho – os reais, da Revolução de 93, e os simbólicos, como a Constituição de 89, monstro iliberal que ele concebeu e que subordinava Legislativo e Judiciário ao Executivo positivista.  Um pouco de ar, de horizonte, de perspectiva – não é mais ou menos o que a gente precisa agora, isolado, confinado, distanciado e correndo o risco de literal falta de ar com a Covid-19? Então preparamos uma edição praticamente Coronavírus free! Bem, na verdade os nossos dois desenhistas da edição não escaparam ao diabólico encanto da pandemia: Edgar Vasques olha para os dois males do momento, enquanto o Pablo Aguiar conversa com um morador de rua, protegido com máscara e meio filósofo. Vamos de ar: Gabrielle Toson, que viveu uns meses na distante Martinica, conta de sua experiência e mostra umas imagens que ajudam a sonhar.  Ilha do Caribe, mar – pronto, estamos agora prontos para ler a entrevista de Lauro Barcellos, professor de Oceanologia, na FURG, com um trabalho social e científico comovente, que Patrícia Lima nos traz.  Ar também está na reportagem: *** (árvores?) Um relato de viagem inesperado é também outra lufada de ar: Demétrio de Azeredo Soster, jornalista e professor em Santa Cruz, é um ciclista emérito, que nos conta de uma pedalada de… mais de 700 quilômetros, serra acima e abaixo. Dois ensaios da edição são assinados por mulheres de grande texto e valor – e curiosamente os dois casos se referem ao mundo amazônico, responsável, até aqui, pela qualidade do ar do planeta. Julie Dorrico conta seu tortuoso e redentor processo de autoidentificação como indígena, enquanto Marília Floôr Kosby relata, num diário fragmentado, sua experiência como professora substituta de Antropologia em Roraima. Desculpado o clichê, dois textos de tirar o fôlego. Também de uma mulher de grande texto é uma hipótese ousada e meio debochada sobre o Gênesis. Nathallia Protazio especula sobre lugar de mulher e de homem, confrontando o machismo a que nos acostumamos, especialmente nós, os homens. José Falero se controla para não falar do vírus: incide sobre a quase-loucura que toma conta dos isolados, nós todos.  Seguimos com Arthur […]

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Reza uma antiga lenda estadual que Júlio de Castilhos, o chefe da Primeira República entre nós, mandachuva geral e patrono de Borges de Medeiros, morreu acusando falta de ar. A forma redonda da história é assim: era outubro de 1903 e Júlio estava com dores acentuadas de garganta. Estava já fora do poder executivo: tinha encerrado em 1898 seu período na presidência do Estado (como se chamava o cargo do atual governador), mas ainda comandava o Partido Republicando Riograndense, o PRR.  Chama o doutor Protásio Alves, correligionário; este o examina e diz que precisará fazer uma operação. O médico exorta o paciente: “Presidente, o senhor vai precisar de coragem!” Júlio responde: “Coragem eu tenho; o que me falta é ar”. E morreu. Castilhos era jovem. Tinha apenas 43 anos.  Morto, deixou o caminho aberto para uma trilha de décadas de autoritarismo, que ele mesmo protagonizara até ali, com vários cadáveres pelo caminho – os reais, da Revolução de 93, e os simbólicos, como a Constituição de 89, monstro iliberal que ele concebeu e que subordinava Legislativo e Judiciário ao Executivo positivista.  Um pouco de ar, de horizonte, de perspectiva – não é mais ou menos o que a gente precisa agora, isolado, confinado, distanciado e correndo o risco de literal falta de ar com a Covid-19? Então preparamos uma edição praticamente Coronavírus free! Bem, na verdade os nossos dois desenhistas da edição não escaparam ao diabólico encanto da pandemia: Edgar Vasques olha para os dois males do momento, enquanto o Pablo Aguiar conversa com um morador de rua, protegido com máscara e meio filósofo. Vamos de ar: Gabrielle Toson, que viveu uns meses na distante Martinica, conta de sua experiência e mostra umas imagens que ajudam a sonhar.  Ilha do Caribe, mar – pronto, estamos agora prontos para ler a entrevista de Lauro Barcellos, professor de Oceanologia, na FURG, com um trabalho social e científico comovente, que Patrícia Lima nos traz.  Ar também está na reportagem: *** (árvores?) Um relato de viagem inesperado é também outra lufada de ar: Demétrio de Azeredo Soster, jornalista e professor em Santa Cruz, é um ciclista emérito, que nos conta de uma pedalada de… mais de 700 quilômetros, serra acima e abaixo. Dois ensaios da edição são assinados por mulheres de grande texto e valor – e curiosamente os dois casos se referem ao mundo amazônico, responsável, até aqui, pela qualidade do ar do planeta. Julie Dorrico conta seu tortuoso e redentor processo de autoidentificação como indígena, enquanto Marília Floôr Kosby relata, num diário fragmentado, sua experiência como professora substituta de Antropologia em Roraima. Desculpado o clichê, dois textos de tirar o fôlego. Também de uma mulher de grande texto é uma hipótese ousada e meio debochada sobre o Gênesis. Nathallia Protazio especula sobre lugar de mulher e de homem, confrontando o machismo a que nos acostumamos, especialmente nós, os homens. José Falero se controla para não falar do vírus: incide sobre a quase-loucura que toma conta dos isolados, nós todos.  Seguimos com Arthur […]

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