O que se esconde num pseudônimo? Pseudo, em língua de hoje, é fake, falso. Falso pode ser um drible, sublime momento do futebol dizem que inventado no Brasil, e pode ser uma mentira, maldade calculada para sacanear o próximo. O próximo, essa figura tão negligenciada em nosso tempo. Ricardo Lísias publicou um livro, como comentamos na edição 17 da Parêntese, com um pseudônimo calculado. Era o Diário da cadeia, assinado por “Eduardo Cunha (pseudônimo)”. Escreveu como se ali se expressasse o agora mal lembrado deputado responsável pelo impeachment de Dilma. Era um drible. O atual presidente, ainda não submetido a processo de impedimento, adotou, afirma, não um mas três pseudônimos para revelar (esconder) exames de detecção para o vírus que nos coube, no sorteio da história. “Aírton”, “Rafael” e, não menos, “05”. Quando li esse pseudônimo, esse nome fake, gelei. Por quê? Escrevi um ensaiozito para o Projeto DRAFT, em janeiro do ano passado (https://www.projetodraft.com/o-que-acontece-com-o-brasil-falta-pai/), no qual notei que muitos protagonistas centrais do romance brasileiro não têm pai, ou não o conhecem, como Riobaldo, de Grande sertão: veredas, ou o Paulo Honório de São Bernardo. Outros têm, por assim dizer, excesso de pai, como o sofrido narrador de Lavoura arcaica. Outros ainda recusam ser pais, ou têm extremo problema com ser pai, como uma penca de homens machadianos. E o ponto final era indagar o que seria do então novo governo, liderado por um pai que dava já toda a pinta de ser uma péssima figura paterna. Eis que agora chegamos à identidade, ou à fake-identidade “05”. Sabemos que o chefe do executivo menciona seus filhos como 01, 02, 03 e 04. Pois ele agora revela ter escolhido para si a posição de mais novo de seus filhos, o quinto da fila. Que fantasia de recusa à paternidade se esconde mal aí? Não sendo eu psicanalista, paro por aqui. Paro mas não deixo de dizer que a edição 25 vem quente. A reportagem enfoca uma iminência lamentável: está por fechar o escritório da gloriosa EMATER em Porto Alegre, um município que tem uma extensa e rica zona rural. Parte do desmonte dos organismos de estado. O ensaio de fotos é uma honra: vem conosco neste número a Heloiza Averbuck, para alegria dos nossos sentidos. O pessoal do Plantabaja reafirma sua fé na vigília mais uma vez, agora numa paisagem natural de dar gosto e saudade. Completando o pelotão de imagens, um conjunto de cartuns de Alisson Affonso, enfocando o autodesignado 05. Na entrevista, uma lenda vida: Carlos Bastos, jornalista, testemunha ocular da história brasileira desde o suicídio de Getúlio, ele ainda jovem, passando pela campanha da Legalidade, ele já profissional da imprensa, até a Constituinte e o que mais veio depois. Pessoas, títulos antigos e novos de jornais, rádios e tevês, lugares da cidade, eventos, tudo isso é evocado com a força do testemunho. A entrevista foi feita por Juarez Fonseca e por mim, ainda em dezembro, quando dava para permanecer num restaurante por horas, sem medo. Susana Vernieri oferece […]
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