Diário da espera | Parêntese

Richard Serraria: Diário da Sozinhez

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Richard Serraria: Diário da Sozinhez
Por Richard Serraria, com fotos de Luíz Horácio DIA 1 – Palavra “O feitiço da boca é o silêncio”Provérbio umbundu Esta linha é notável por sua potência fluídica a qual provém dos 7 elementos que a compõem. Primeiro elemento, primeiro dia: PALAVRA. A cabeça cheia, leitura em série interminável das notícias ligadas a pandemia, já não era eu ali, era a ante sala do apocalipse, só o que faltava era olhar para o céu em busca dos cavaleiros, mas não haviam trombetas e sim sirene das ambulâncias que sempre houve mas que na atual conjuntura intrigavam um pouco mais.  Do que sofreria aquele doente? Carros de saúde com pressa passavam levando gente inevitavelmente doente aqui nessa rua a caminho do HPS, como de hábito, e eu ali buscando força nas entidades das quebradas que me diziam também para ficar em casa. Sim, também era hora dos cantadores se fecharem, incluindo catadores de palavras destranca ruas, recicladores destranca esquinas, garimpeiros de levadas e rimas por hora em encruzilhadas reclusas. Fui dormir tarde com a mente cheia de veneno midiático e naquela madrugada entendi a exata dimensão da expressão: “sono reparador”. Veneno: às vezes, palavra. DIA 2 – Mundo “Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida.”James Joyce Esta linha é notável por sua potência fluídica a qual provém dos 7 elementos que a compõem. Segundo elemento, segundo dia: MUNDO.  No princípio do segundo dia foi o verbo e então decidi que eu precisaria me tornar um homem-filtro, ocupar a mente com coisas positivas seria indispensável, ler somente o necessário tipo aqueles dizeres antigos afixados à frente dos ônibus: “Fale com o motorista somente o indispensável”. Autor motorista, barqueiro próprio, não afundar a barca, não superlotar o ônibus. A alma de um homem comum é como um ônibus lotado, depois de um dia cheio ainda há um puta trabalho até chegar em casa! Para pensamentos tantos perdidos eu buscaria imunização, um fim de linha, uma parada obrigatória. Isso seria manter minha saúde física assim como minha saúde psicológica também e entendi perfeitamente que palavras curam em certos casos assim como adoecem. Palavra circular, não para, cheia de pensamentos perimetrais. Juntei o velho exemplar parado de Clarice na estante e as próximas horas vivi desplugado de tudo, modo avião, eu ali voando Lispector do Coração Selvagem. Veneno, remédio: palavra, mundo. DIA 3 – Casa “Nesses tempos de dor e medo / É difícil / Mas necessário / Ser / ACALANTO”Marlon Pires Ramos Esta linha é notável por sua potência fluídica a qual provém dos 7 elementos que a compõem. Terceiro elemento, terceiro dia: CASA. Cabral, o poeta não o descobridor português tampouco o político carioca preso,  dizia que o engenheiro sonhava coisas claras e eu ali a essa altura já aprendera invencionices várias de  sentidos diários. Portanto, nada não muito diferente do que já estava acostumando a fazer ou tentar empreender todo dia. É que agora havia a reclusão imposta, conjugar o verbo esperar em todas as formas, tempos e modos. Adaptava […]

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