Entrevista | Parêntese

Romance, sangue e muita história nesse nosso português brasileiro

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Romance, sangue e muita história nesse nosso português brasileiro
Não é novidade para ninguém que vivemos tempos de profunda mudança nos padrões de escrita do português brasileiro, seja porque a dinâmica das redes sociais impõe alterações a toda hora, seja porque muita gente antes silenciosa (silenciada, ou sem voz mesmo) agora toma a palavra, como é o caso de habitantes das periferias das grandes cidades, das mulheres, do universo LGBTQIA+. Hora excelente para ouvir um dos maiores especialistas em história do português. Carlos Alberto Faraco publicou há não muito tempo um livro precioso, História sociopolítica da língua portuguesa (Parábola, 2016). [Ver resenha do livro, nesta edição de Parêntese] Nele, Faraco põe em circuito informações que a gente tem, quando tem, em baias separadas – aqui a gramática, ali a etiqueta da língua, mais adiante a história da sociedade, lá no fundo a história política do país. Deste bololô sai uma leitura estupenda, esclarecedora, com pingos em todos os ii e jj e onde mais couber. No centro da trajetória do Faraco e no miolo do problema que ele estuda há uma noção forte: a de mudança ou variação linguística. A noção de que a língua muda, com o uso, com o tempo, com as demandas que se apresentam, com a dinâmica social e política.  Contra essa força por assim dizer natural se ergue a barreira dura da visão conservadora, que se apresenta de várias maneiras, das mais amenas às mais perversas. Uma é a prática escolar que saudavelmente considera a língua escrita como um patrimônio estável da cultura e, por isso, a trata com cautela – não pode cada um escrever como fala, por exemplo, porque isso resultaria numa impossibilidade de comunicação, entre setores da sociedade, entre tempos, entre visões do mundo. Outra, perversa, congela a língua escrita num certo momento de sua história, considerado arbitrariamente como excelente, e não aceita quaisquer mudanças – é o caso da visão que considera que bom mesmo era o Ruy Barbosa, ou o Bilac, porque supostamente usaram a língua em seu estágio insuperável. No meio dessa pororoca histórica, estamos todos, usuários da língua, professores, jornalistas; mas no olho do furacão está o cientista da língua, o linguista, ou o sociolinguista, como Faraco, que estuda o caso, sem preconceito e com ampla informação histórica. Ao contrário da visão normativa, que a escola costuma prestigiar (ensinando o “certo” a fazer), o linguista tem uma visão analítica, que quer entender o que está acontecendo, sem emitir previamente nenhum juízo de valor. A entrevista foi feita por email, em algumas idas e vindas. Conheço o Faraco e o admiro há uns 40 anos, mais ou menos. Com ele aprendi muito, e seu mais recente livro é um presente para a inteligência. – LAF Parêntese: Conta um pouco da tua trajetória: origem social e familiar, horizonte intelectual da tua história familiar, depois escolar e tal. E história profissional. A ideia é te apresentar ao leitor, mas também demarcar, meio à moda Bourdieu, a tua trajetória. Carlos Alberto Faraco: Nasci em Curitiba numa família de classe média urbana. […]

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