Parêntese | Resenha

Sérgio Karam: O homem que mostrou o Brasil

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Sérgio Karam: O homem que mostrou o Brasil Resenha de O homem que aprendeu o Brasil. A vida de Paulo Rónai. De Ana Cecilia Impellizieri Martins. São Paulo: Todavia, 2020, 384 páginas. Acaba de ser publicada, pela editora Todavia, uma biografia do tradutor, crítico literário, professor, ensaísta e filólogo Paulo Rónai, nascido na Hungria em 1907 e falecido no Rio de Janeiro em 1992, depois de ter vivido mais de 50 anos no Brasil. Escrito pela jornalista e editora Ana Cecilia Impellizieri Martins, o livro é uma adaptação da tese de doutorado defendida pela autora na PUC-Rio em 2016, baseada, em boa medida, nos diários mantidos pelo biografado desde 1928, quando ainda vivia em Budapeste, além de contar com inúmeras outras fontes. Dizer que Paulo Rónai foi um grande intelectual não é novidade alguma; que ele foi um grande tradutor e pensador da tradução, também não (estão aí seus livros reunindo parte dos artigos que publicou em jornais e revistas ao longo da vida). O que impressiona em sua biografia, tal como narrada por Ana Cecilia, é constatar a profundidade de sua inserção no meio literário brasileiro, depois de aqui chegar em 1941, fugindo da insânia nazista, sem família, com pouquíssimo dinheiro e com alguns contatos com a intelectualidade local (leia-se: carioca). Sim, como todo mundo sabe, nos anos 40 o Rio de Janeiro ainda era a capital federal e um poderoso centro intelectual do país, concentrando boa parte da atividade editorial brasileira (não exclusivamente, é claro – basta lembrar a gloriosa Livraria do Globo, de Porto Alegre, que já-já vai entrar nessa história). Pois bem, Paulo Rónai chegou ao Brasil como um especialista em literatura latina e em literatura francesa, tendo publicado, de quebra – e essa foi sua carta na manga para vir ao Brasil –, ainda na Hungria, uma antologia de poesia brasileira, Mensagem do Brasil: os poetas brasileiros da atualidade, às vésperas da II Guerra Mundial. A antologia, traduzida pelo próprio Rónai (sim, neste meio tempo ele se dedicou a estudar português), trazia nomes como Olavo Bilac, Cruz e Souza, Mário de Andrade, Jorge de Lima, Adalgisa Nery, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade. A autora destaca o fato de que, antes de 1940, Paulo Rónai “foi certeiro ao reconhecer a genialidade de um poeta como Carlos Drummond de Andrade muito antes das unanimidades”. E essa não foi, certamente, a única prova de sua antena apurada para o que havia de bom em literatura no Brasil, como veremos. Depois de pelo menos dois anos de batalhas burocráticas e de troca de cartas com vários diplomatas e escritores brasileiros, logo que aportou por aqui Paulo Rónai saiu em busca de seus contatos e acabou estabelecendo relações de amizade duradoura com alguns dos mais importantes intelectuais do Brasil, que se revelaram de fundamental importância para sua fixação e assimilação no país. Aurélio Buarque de Holanda, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa foram alguns dos escritores que o acolheram quase instantaneamente e com os quais Rónai se envolveu profissionalmente em momentos diversos. […]

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Resenha de O homem que aprendeu o Brasil. A vida de Paulo Rónai. De Ana Cecilia Impellizieri Martins. São Paulo: Todavia, 2020, 384 páginas. Acaba de ser publicada, pela editora Todavia, uma biografia do tradutor, crítico literário, professor, ensaísta e filólogo Paulo Rónai, nascido na Hungria em 1907 e falecido no Rio de Janeiro em 1992, depois de ter vivido mais de 50 anos no Brasil. Escrito pela jornalista e editora Ana Cecilia Impellizieri Martins, o livro é uma adaptação da tese de doutorado defendida pela autora na PUC-Rio em 2016, baseada, em boa medida, nos diários mantidos pelo biografado desde 1928, quando ainda vivia em Budapeste, além de contar com inúmeras outras fontes. Dizer que Paulo Rónai foi um grande intelectual não é novidade alguma; que ele foi um grande tradutor e pensador da tradução, também não (estão aí seus livros reunindo parte dos artigos que publicou em jornais e revistas ao longo da vida). O que impressiona em sua biografia, tal como narrada por Ana Cecilia, é constatar a profundidade de sua inserção no meio literário brasileiro, depois de aqui chegar em 1941, fugindo da insânia nazista, sem família, com pouquíssimo dinheiro e com alguns contatos com a intelectualidade local (leia-se: carioca). Sim, como todo mundo sabe, nos anos 40 o Rio de Janeiro ainda era a capital federal e um poderoso centro intelectual do país, concentrando boa parte da atividade editorial brasileira (não exclusivamente, é claro – basta lembrar a gloriosa Livraria do Globo, de Porto Alegre, que já-já vai entrar nessa história). Pois bem, Paulo Rónai chegou ao Brasil como um especialista em literatura latina e em literatura francesa, tendo publicado, de quebra – e essa foi sua carta na manga para vir ao Brasil –, ainda na Hungria, uma antologia de poesia brasileira, Mensagem do Brasil: os poetas brasileiros da atualidade, às vésperas da II Guerra Mundial. A antologia, traduzida pelo próprio Rónai (sim, neste meio tempo ele se dedicou a estudar português), trazia nomes como Olavo Bilac, Cruz e Souza, Mário de Andrade, Jorge de Lima, Adalgisa Nery, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade. A autora destaca o fato de que, antes de 1940, Paulo Rónai “foi certeiro ao reconhecer a genialidade de um poeta como Carlos Drummond de Andrade muito antes das unanimidades”. E essa não foi, certamente, a única prova de sua antena apurada para o que havia de bom em literatura no Brasil, como veremos. Depois de pelo menos dois anos de batalhas burocráticas e de troca de cartas com vários diplomatas e escritores brasileiros, logo que aportou por aqui Paulo Rónai saiu em busca de seus contatos e acabou estabelecendo relações de amizade duradoura com alguns dos mais importantes intelectuais do Brasil, que se revelaram de fundamental importância para sua fixação e assimilação no país. Aurélio Buarque de Holanda, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa foram alguns dos escritores que o acolheram quase instantaneamente e com os quais Rónai se envolveu profissionalmente em momentos diversos. […]

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