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“A Morte Habita à Noite” coloca Bukowski no Recife

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“A Morte Habita à Noite” coloca Bukowski no Recife Vitrine Filmes/Divulgação

Realizador de curtas premiados como Todos Esses Dias em que Sou Estrangeiro (2013) e Ao Final da Conversa, Eles se Despedem com um Abraço (2017), o diretor Eduardo Morotó estreia no longa-metragem com A Morte Habita à Noite (2020). Inspirado no universo literário do norte-americano Charles Bukowski, o filme é o retrato de um escritor sem grana e das mulheres de sua vida, encharcado de álcool e fumaça de cigarro.

Exibido nos festivais de Roterdã, Rio e Havana, A Morte Habita à Noite é ambientado em uma Recife marcada pela melancolia urbana, com personagens que circulam pela marginalidade da cidade. Narrado como uma crônica, o filme transita entre o prazer e a dor: após presenciar um suicídio da janela de seu apartamento ao lado da namorada Lígia (Mariana Nunes), o escritor desempregado Raul (Roney Villela) é abandonado pela amada – que ficou abalada com a violenta morte testemunhada.

Aos 50 anos, alcoólatra e agora sem lar, Raul muda-se para uma pensão ordinária e vaga pela noite recifense afogando a solidão na bebida em busca da autodestruição. Quando topa por acaso no balcão de um boteco com a bela Cássia (Endi Vasconcelos), uma jovem desgarrada e cheia de vida, Raul passa a encarar de outra maneira o amor, a vida e a morte – na esperança de enfim ter encontrado uma alma gêmea em um mundo sujo, decadente e desapiedado.

Vitrine Filmes/Divulgação

Roney Villela – experiente intérprete que tem no currículo títulos como Meu Nome Não É Johnny (2008), Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro (2010) e Novo Mundo (2017) – ganhou por sua atuação em A Morte Habita à Noite os prêmios de melhor ator nos festivais Cine Ceará, Santa Maria da Feira, Inffinito e Cine Pedra Azul.

Ainda na faculdade de cinema, Eduardo Morotó adaptou para o cinema um conto de Bukowski, chamado A Mulher Mais Linda da Cidade, que se tornou o curta Quando Morremos à Noite (2011), igualmente estrelado por Villela. “O longa acabou sendo uma consequência dessa obra, na qual o meu maior interesse estava na dinâmica dramatúrgica do conto, repleto de jogo de cena entre duas personagens, diálogos e situações cortantes, o que atendia o meu desejo de aprofundar-me na direção de atores. Além de enxergar naquele universo uma dimensão humana de confissão, de sentimentos inatos entre personagens fora dos modos sociais mais convencionais e inseridos num mundo de escassez”, explica.

Ainda sobre o escritor norte-americano, Morotó comenta que “suas personagens vivem no exílio da miséria e eu queria colocar o espectador dentro desses cenários em estado de ruínas. Diante disso, em primeiro lugar, o filme tem a dizer que o cotidiano sombrio o qual retrata não é uma fantasia, é a realidade de milhões de brasileiros que vivem na extrema pobreza. Além disso acredito que ele desperta um sentimento de reconhecimento e compaixão entre/perante essas figuras e também dialoga com a decadência de uma certa masculinidade e sua necessidade de transformação”.

A estreante Endi Vasconcelos aponta que sua personagem Cássia foi uma alegria e um desafio como atriz: “Ela é uma alma perdida que não se encaixa nesse mundo, por isso o encontro com Raul é bonito”. Já a atriz Rita Carelli, que interpreta uma misteriosa mulher que surge no caminho do protagonista no ato final do filme, destaca o peso de seu papel na trama: “Coube à minha personagem, na fronteira entre a morte e a vida, revelar o poeta enrustido no personagem bukowskiano que protagoniza esse filme”.

Vitrine Filmes/Divulgação

A Morte Habita à Noite: * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de A Morte Habita à Noite:

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