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“Moonage Daydream” mergulha em David Bowie

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“Moonage Daydream” mergulha em David Bowie Universal/Divulgação

Como retratar na tela o artista brilhante e caleidoscópico que foi David Bowie (1947 – 2016)? O cineasta estadunidense Brett Morgen responde ao desafio com Moonage Daydream (2022), arrebatador documentário sobre o ídolo inglês do rock que entra em cartaz nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (15/9). Colagem vertiginosa de imagens de Bowie e de uma miríade de fontes audiovisuais, o filme ficará apenas uma semana em cartaz, em salas com projeção IMAX.

Exibido no Festival de Cannes deste ano, longa foi batizado com o nome de uma das canções do revolucionário disco The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972), quinto álbum de estúdio de Bowie. Moonage Daydream exibe preciosas cenas íntimas e de performances ao vivo inéditas, liberadas pela primeira vez pelo espólio do cantor e compositor – inclusive esculturas, pinturas e poemas de Bowie nunca vistos antes.

Em 2017, o David Bowie Estate apresentou a Morgen mais de 5 milhões de itens. O diretor – que uma década antes havia se encontrado com Bowie em função do projeto de um filme que nunca avançou – passou então quatro anos montando o filme e outros 18 meses projetando a paisagem sonora, animações e paleta de cores para Moonage Daydream.

Como em Cobain: Montage of Heck (2015), no qual teve acesso a material exclusivo sobre o roqueiro Kurt Cobain, líder da banda Nirvana, Morgen dedica-se em seu novo documentário mais a tentar revelar as inquietações criativas e as atribulações existenciais de seu personagem do que em apresentar uma cinebiografia convencional ancorada em informações, datas, números.

Em paralelo à profusão de fragmentos de depoimentos e entrevistas em que Bowie divaga sobre música, arte, existência, amor, fama, cultura e sociedade, entre outros temas, Moonage Daydream propõe uma linha do tempo errática, com idas e vindas no tempo – mas que conduz o espectador pela trajetória de vida e de carreira de um dos nomes mais geniais da cultura pop da segunda metade do século 20. Não há comentários de músicos, produtores, jornalistas, críticos ou especialistas no filme: quem fala sobre Bowie é apenas ele mesmo, em declarações às vezes evasivas, noutras desconcertantemente sinceras, muitas de uma impostura debochada.

Universal/Divulgação

Mesmo abrindo mão de se deter em nomes de discos e músicas, cronologias e colaboradores, o roteiro dá conta de apresentar os movimentos e eventos fundamentais na história do artista: a infância no bairro londrino de Brixton, a influência do meio irmão esquizofrênico Terry e seu temor de também ter algum distúrbio mental, os alter egos Ziggy Stardust e Thin White Duke, a recorrência da figura do Major Tom, as participações em filmes como O Homem que Caiu na Terra (1976), Furyo – Em Nome da Honra (1983) e Fome de Viver (1983), a atuação como protagonista na versão da Broadway de O Homem Elefante, o cerebralismo da “Trilogia de Berlim” e o comercialismo da fase do disco Let’s Dance (1983).

Escrito, produzido, dirigido e montado por Brett Morgen, Moonage Daydream busca traduzir em linguagem fílmica o que Bowie confessa diversas vezes no filme que gostaria de fazer com sua música: interpretar e dar algum sentido ao caos e à fragmentação do mundo. O realizador consegue isso costurando as cenas relacionadas com Bowie e suas criações com uma infinidade de referências, que vão do cinema expressionista alemão a filmes de Stanley Kubrick, passando por produções B de ficção científica, comerciais e trechos de programas de TV – jogados na tela como cacos visuais que ilustram e comentam o que está sendo dito ou cantado.

Além de traduzir em imagens a sensibilidade artística ao mesmo tempo cambiante e fractal de David Bowie, Moonage Daydream conduz a narrativa com um pulso musical cativante graças à montagem virtuosística, que intercala cenas de shows em um crescendo até o clímax extático com sequências de ritmo mais estável e reflexivo – como nos movimentos de um concerto. Essa jornada pelo universo bowieano é potencializada pelo ambiente IMAX, cuja tela gigante – quatro vezes em média maior do que a de projeção digital comum – e o som alto e envolvente conseguem transportar o público para dentro de uma arena de rock.

Universal/Divulgação

Moonage Daydream: * * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Moonage Daydream:

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