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O corpo feminino é resistência em “Dançando no Silêncio”

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O corpo feminino é resistência em “Dançando no Silêncio” Pandora Filmes/Divulgação

Dirigido pela franco-argelina Mounia MeddourDançando no Silêncio (2002) mostra a dança para além de manifestação artística. No filme que entra em cartaz nesta quinta-feira (4/5), bailar é também uma maneira pela qual as personagens exercem a sororidade e lidam com traumas.

Em Dançando no Silêncio, Houria (Lyna Khoudri) é uma jovem argelina que sonha em ser bailarina, trabalhando como camareira durante o dia e que se envolve com apostas ilegais à noite. Depois de ganhar uma grande quantia jogando, ela é agredida por um homem.

Quando acorda no hospital, o corpo de Houria não é mais o mesmo, e sua ambição no balé deve ser esquecida. Mas, ao lado de outras mulheres também traumatizadas, a protagonista descobrirá como lidar com as perdas e seguir em frente.

Pandora Filmes/Divulgação

Mounia Meddour, que também assina o roteiro, explica que a origem do filme estava no desejo de explorar a sociedade argelina contemporânea, tema constante em sua filmografia, e que encontrou na personagem uma maneira de acessar esse universo.

“Eu comecei no cinema fazendo documentário, por isso eu gosto de tirar de dentro de mim memórias e experiências para transcrever em ficção no cinema. Após um acidente, com fratura dupla do tornozelo, vivi uma longa reabilitação que me imobilizou por um tempo. Eu queria contar sobre o isolamento, a solidão e deficiência. Mas, especialmente, a reconstrução”, diz a realizadora, que dirigiu também o ótimo Papicha (2019), sobre uma jovem estudante de espírito livre e independente em meio à guerra civil na Argélia.

Ao colocar como protagonista uma jovem que sonha em dançar, mas é imobilizada, a diretora pretende mostrar como no seu país a liberdade individual – especialmente das mulheres – é limitada: “A dança ainda é praticada em lugares privados, mas muito pouco ao ar livre. O corpo da mulher é um tabu. Uma mulher que dança é uma mulher que quer se expressar. Não é inofensivo em uma sociedade patriarcal e tradicional, com costumes e mecanismos de honra. Precisamos de uma mudança de mentalidade, mas o caminho ainda é longo”.

Pandora Filmes/Divulgação

As coreografias do filme são assinadas por Hajiba Fahmy, que já fez parte da equipe de bailarinas dos shows da estrela pop Beyoncé. Meddour explica que a coreografia foi o mais difícil de criar, pois tinha de ser, ao mesmo tempo, poderosa e libertadora: “A personagem tinha que extrair sua energia do solo e difundi-la em todo o seu corpo. Uma dança natural com um ritmo que invade o corpo. Para essa coreografia, primeiro traduzimos para a linguagem de sinais das passagens do roteiro, e então Hajiba reinterpretou cada sinal em movimento para criar a coreografia final, muito simbólica e cheia de força. Esse processo foi longo e trabalhoso, mas muito estimulante e criativo. Hajiba também preparou Lyna fisicamente para dança clássica”.

A atriz Lyna Khoudri já havia trabalhado com a cineasta em Papicha, estabelecendo uma parceria fundamental para criar a personagem principal de Dançando no Silêncio. “No filme, falamos de silêncio, choque pós-traumático, reabilitação física, e, para isso, foi fundamental coletar o máximo de informações possíveis para construir uma personagem justa, precisa e crível. Então, fizemos muitas entrevistas com psicólogos e neurologistas para tentar entender o que estaria acontecendo na cabeça de Houria e entendendo seu silêncio como resultado de um choque pós-traumático”, afirma Meddour.

Pandora Filmes/Divulgação

Dançando no Silêncio: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Dançando no Silêncio:

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