Artigos | Cinema

“O Perdão” acompanha iraniana em busca de justiça

Change Size Text
“O Perdão” acompanha iraniana em busca de justiça Imovision/Divulgação

Origem de uma das mais potentes cinematografias da atualidade, o Irã e sua complexa realidade voltam às telas em mais um excelente filme. Exibido na seleção oficial do 71º Festival de Berlim, O Perdão (2020) acompanha a dramática luta de uma mulher que busca reparação depois que o marido é executado pela justiça por um crime que não cometeu.

Em O Perdão, vida de Mina (Maryam Moghadam, também diretora e roteirista do filme) é virada do avesso quando descobre que o marido era inocente do crime pelo qual foi executado. As autoridades reconhecem o erro e oferecem uma compensação financeira – mas a jovem viúva quer um pedido de desculpas oficial dos juízes que condenaram seu companheiro injustamente à morte.

Em sua batalha inglória contra o sistema burocrático inflexível e as restrições da sociedade patriarcal e conservadora, Mina é assediada pelo cunhado. Operária em uma indústria de beneficiamento de leite, a protagonista cuida sozinha da filha surda. A vida de Mina vai ganhar uma inesperado rumo novo quando Reza (Alireza Sani Far) bate à sua porta apresentando-se como amigo de seu marido e disposto a ajudá-la – o desconhecido, no entanto, esconde o real motivo que o levou a procurá-la.

Imovision/Divulgação

O título original do filme, que pode ser traduzido como “Balada de uma Vaca Branca”, é uma referência à Sura da Vaca, um dos capítulos do Alcorão. A vaca branca é uma metáfora para uma pessoa inocente condenada à morte.

Os personagens principais de O Perdão são inspirados por pessoas que os diretores Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha – casados na vida real, que sempre trabalham em parceria – conhecem de verdade: a protagonista Mina, por exemplo, é baseada na mãe de Maryam. “Na verdade, a história não é apenas a de minha mãe, mas também a de meu pai, que também foi executado, por motivos políticos e na ausência de julgamento”, esclarece a diretora.

Atriz de filmes como Cortinas Fechadas (2013), de Jafar Panahi, Maryam explica como é dividir o set com o marido: “Todas as decisões tomadas antes das filmagens são tomadas em conjunto, o que cria uma profunda confiança entre nós. Durante as filmagens, quando eu estava na frente da câmera e Behtash atrás, eu sabia que poderia ter total confiança no que ele estava fazendo”.

Imovision/Divulgação

No Irã, existem duas etapas para obter permissão para fazer um filme. A primeira vem antes de começar a rodagem e é chamada de “autorização de filmagem”. Nessa etapa, uma comissão lê o roteiro e, se todos concordarem, após a opinião dos censores, é concedida a permissão para filmar.

O Perdão chega aos cinemas brasileiros em meio ao turbilhão de protestos em todo o Irã por causa da morte de uma jovem de 22 anos quando estava sob custódia da polícia da moralidade do país pela maneira como ela usava o hijab – o véu islâmico que cobre os cabelos das mulheres. Curiosamente, a rigorosa justiça iraniana, as consequências de suas decisões na vida das pessoas – em particular das mulheres – e o anseio por expiação também estão no centro da trama de dois ótimos filmes exibidos recentemente nos cinemas brasileiros: Yalda – Uma Noite de Perdão (2019), de Massoud Bakhshi, e Um Herói (2021), de Asghar Farhadi.

Imovision/Divulgação

O Perdão: * * * * * 

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de O Perdão:

RELACIONADAS
PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?