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“Mulheres Caídas”: Aline Daka costura vozes em HQ caleidoscópica

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“Mulheres Caídas”: Aline Daka costura vozes em HQ caleidoscópica Capa de "Mulheres Caídas", de Aline Daka

Anarcofeministas, beatniks, punks, boêmias, trágicas, periféricas e outras “malditas” compõem as vozes que narram Mulheres Caídas (Skript Editora), história em quadrinhos da artista porto-alegrense Aline Daka. Fruto de uma trajetória que começa no movimento anarcopunk e na produção de fanzines, a obra homenageia em seu título figuras marginalizadas da Guerra Civil Espanhola (1936-39) – apenas uma das incontáveis citações que integram a caleidoscópica costura de textos e desenhos do livro, viabilizado por financiamento coletivo e em fase de pré-venda.

Ilustração: Aline Daka

“As mujeres caídas eram mulheres exiladas do campo, que caíram na superfície de uma grande cidade tragicamente transformando-se em temidas delinquentes. Trêmulas na linguagem urbana, sem recursos, politizadas ou não, muitas delas foram adotadas pela prostituição clandestina, el oficio de las tinieblas”, explica Daka – leia a entrevista a seguir.

“O que fiz foi reunir em desenho, como em uma colagem, as mulheres que vi como ‘caídas’ e que fizeram parte das referências de minha trajetória artística, sejam elas reais ou fictícias, anônimas ou pop, e que me ensinaram as tonalidades e os movimentos desse ‘cair’ transgressor”, completa a artista, 42 anos, graduada em Artes Visuais, além de mestre e doutoranda em Educação – todas as formações pela UFRGS. No mestrado, orientada pela professora Paola Zordan, Daka apresentou uma dissertação cuja primeira parte é uma narrativa gráfica adaptada para o formato livro em Mulheres Caídas.

O “mosaico vivo de revoluções”, como a autora nomeia a constelação de referências da obra, inclui fragmentos e apropriações de diversas escritoras e artistas, com destaque para a poesia escrita por mulheres como Alejandra Pizarnik, Ana Cristina Cesar, Hilda Hilst, Stela do Patrocínio e Sylvia Plath, além de nomes como a norte-americana Diane Di Prima, a iraniana Forough Farrokhzad e a polonesa Halina Poświatowska.

Ilustração: Aline Daka

Ao coro poético da obra somam-se textos de Daka e outras vozes compiladas pela autora em suas vivências. É o caso, por exemplo, de relatos colhidos pela artista em um projeto realizado na periferia de Novo Hamburgo, envolvendo meninas vítimas de violência sexual, no qual Daka – em sua atuação como professora – propôs a criação de “conficções”, depoimentos confessionais com viés ficcional. “Quando estava desenhando a HQ, essas ‘falas’ apareciam no trabalho de uma forma muito cacofônica, misturadas, complementando-se, conflitando-se, criando outras falas, num movimento de expansão espiralado como se tivessem vida própria (aliás, tinham)”, descreve Daka, citando um verso da argentina Alejandra Pizarnik: no puedo hablar con mi voz, sino con mis voces.

Ilustração: Aline Daka

Na entrevista a seguir, Aline Daka fala sobre sua trajetória – do contexto anarcopunk à academia, com passagens pela Universidade de Lisboa e pela Casa do Sol, do Instituto Hilda Hilst –, o amplo universo feminino e feminista de Mulheres Caídas, suas referências artísticas, o espaço conquistado pelas mulheres nas artes gráficas e sua pesquisa de doutorado.

Aline, gostaria que você começasse nos contando sobre o teu vínculo com a cultura punk e dos fanzines.

Foi uma relação que começou aos 16 anos, numa adolescência típica dos anos 1990, que tinha a música punk como forte referência de rebeldia e busca de mudanças radicais para a vida. Eu era uma menina da periferia de Porto Alegre e me envolvi com o movimento anarcopunk – uma vertente do movimento punk mais politizada e artística – a ponto de sair de casa, ir viver em comunidade, viajar pelo Brasil, frequentar gigs (eventos punks), expandir isso e movimentar a cena cultural urbana com práticas artísticas e manifestos.

Nessa época, mantínhamos grupos politizados de discussão sobre feminismo, veganismo, antirracismo… Tínhamos um circuito de bandas e fanzines e trocávamos correspondências divulgando esses trabalhos e conhecendo pessoas. Os zines – um meio alternativo de publicação, feita artesanalmente e impressa em fotocópias– eram nossos veículos de comunicação alternativa à grande imprensa e às mídias comerciais, também utilizados como expressão artística e divulgação de ideias autorais. Mas nada disso era novo, pois esse movimento existe no Brasil desde os anos 1980.

Eu comecei a desenhar para ilustrar meus próprios fanzines, que tematizavam especialmente a arte, a poesia e as experiências femininas dentro dessa cena, trazendo quadrinhos, poemas, escritos e desenhos de artistas, poetas e outrxs amigxs punks, dando preferência para a produção das mulheres. A experiência delas sempre me interessou em particular, por uma questão óbvia de proximidade. Sentia que precisava dar visibilidade para essas existências, e foi aí que comecei a pesquisar intuitivamente. Essa experiência informal (marginal) no movimento anarcopunk era como um processo de formação política, social, cultural e artística para quem fazia parte dela. E realmente, foi algo muito intenso, que acabou influenciando meu modo de fazer arte, pensar e sentir o mundo de maneira autoral, sensível e crítica.

Aline Daka: Foto: Steph Lotus

Como foi o processo de levar essas experiências para a pesquisa acadêmica? Gostaria que você comentasse também como foi a residência na Casa do Sol, do Instituto Hilda Hilst, durante o mestrado.

Conheci arte, música, literatura, cinema, dança, teatro, todas as artes, através das pessoas e dos materiais que circulavam no movimento anarcopunk. Um dos conflitos foi o de encontrar as minhas próprias maneiras de habitar o meio acadêmico a partir dessa bagagem, sensibilizada também pelas artes gráficas – e, agora, antropofagicamente, adquirindo o conhecimento canônico da arte contemporânea. Após muitas águas que rolaram, com um intercâmbio de estudos na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, em Portugal, conclui a formação em Artes Visuais (licenciatura e bacharelado) e ingressei no mestrado em Educação [os três cursos pela UFRGS]. Já nesse período as minhas leituras e pesquisas transversalizavam as artes visuais em parceria com a filosofia, especialmente a filosofia da diferença, com autores como Gilles Deleuze, Felix Guattari e Fernand Deligny. A linha de pesquisa da minha formação em mestrado (PPGEDU-Filosofias da Diferença/UFRGS) estudava esses autores, dentre outros, que nos davam uma espécie de aval científico para experimentar metodologicamente outros modos de fazer pesquisa. Era o apoio que eu precisava para ousar conceitual e poeticamente.

Também nesse período realizei uma residência artística para estudos da dissertação na Casa do Sol, do Instituto Hilda Hilst, em Campinas (SP). Com minha orientadora e uma colega de mestrado, também artistas, ficamos na casa por uma semana, experimentando e produzindo com a força da poeta. Fomos gentilmente recebidas por Olga Bilenky, que reside na casa e cuida do acervo da Hilda Hilst. É um lugar realmente mágico, e a Olga é uma história viva da vida artística que girava em torno da poeta nos anos 1960-1980. Em nossas conversas, sempre instigantes, entrei em contato com os contextos artísticos e políticos desses períodos no Brasil – imagine a riqueza dessa oralidade? Também tivemos acesso aos arquivos da poeta, como a sua biblioteca, as anotações e os desenhos que também estão no acervo da Unicamp. Com essa benção espiritual, não foi difícil encontrar a afirmação necessária para fazer o meu trabalho. A dissertação de mestrado Mulheres Caídas: Cacografias na Educação foi feita de maneira experimental, como uma composição gráfica não linear, no formato de uma HQ (história em quadrinhos), e entregue para a banca de avaliação com um texto “anexo”, que era a minha forma de negociação legitimatória como produção científica.

Poderia nos falar um pouco sobre o título Mulheres Caídas?

O nome vem do castelhano mujeres caídas em referência às mulheres marginalizadas da Guerra Civil Espanhola. As mujeres caídas eram mulheres exiladas do campo, que caíram na superfície de uma grande cidade tragicamente transformando-se em temidas delinquentes. Trêmulas na linguagem urbana, sem recursos, politizadas ou não, muitas delas foram adotadas pela prostituição clandestina, el oficio de las tinieblas, tornando-se a imagem degradada das grandes responsáveis pelo crescimento vertiginoso das doenças venéreas – delitos com culpabilidades de autoritárias explicações biológicas. Elas eram pobres, marginais, desventuradas e desérticas ou, talvez, nada do que se contam até os dias de hoje. Deduzimos que elas saem de casa, muitas delas anarquistas, muitas delas violentadas. Dizem também que foram abandonadas moral e economicamente por suas famílias, e portanto, tornaram-se vítimas propícias à corrupção.

Logo, para correção desse desvio que se tornara uma grande ameaça à sociedade conservadora, o ditador espanhol Francisco Franco criou para elas a Obra de Redención de Mujeres Caídas, com o objetivo de regenerá-las – encarcerá-las à modo de redução de penas –, na qual religiosas se ocupavam da tarefa de reeducá-las. Provavelmente, usando da religião com referência aos “anjos caídos” (demonizados, expulsos do paraíso por amar, por ambicionar poderes divinos, por revoltas… Lúcifer, o mais conhecido). Esse pensamento acompanhava o discurso social de que mulheres de esquerda eram demonizadas, pervertidas ou tinham problemas mentais. Essa pesquisa eu encontrei em livros em castelhano, como Mujer, Franquismo y Represión: Una Deuda Histórica, de Gutmaro Gómez Bravo.

Mas isso é apenas um resumo de uma história contada, conhecida de muitos outros modos no Brasil, se atentarmos às histórias públicas das mulheres, que podemos conhecer em pesquisas feministas como as de Margareth Rago. Sabendo disso, não fica difícil sacar que, como ilustradora, educadora e pesquisadora, o encontro com esse termo me deixou em êxtase. Daí eu penso nas noções de “queda” comuns para essas mulheres, na vida difícil de muitas delas, nos abusos e violências que elas sofrem. E como autora, opto pela ideia de uma “queda” enquanto perspectiva de mudança, na intensidade de um gesto brutal que exige a vida – uma oportunidade de revoluções – e não como decadência – ponto de vista moralizante de um juízo. É quando as mulheres caídas se tornam anti-heroínas, porque dissidentes, desertoras, migrantes e instantes in-puros de metamorfose. Penso nelas como forças: sensação, vertigem, ar-risco e conflito.

O que fiz foi reunir em desenho, como em uma colagem, as mulheres que vi como “caídas” e que fizeram parte das referências de minha trajetória artística, sejam elas reais ou fictícias, anônimas ou pop, e que me ensinaram as tonalidades e os movimentos desse “cair” transgressor. São artistas, poetas, gurias marginais como as punks, minhas alunas periféricas, amigas na arte e na vida, dentre outras figuras cosmopolitas que vieram para compor um mosaico vivo de revoluções, como um resgate do poder feminino em criação poética, através das imagens e das palavras.

A HQ Mulheres Caídas propõe uma leitura experimental, frontal, selvagem, aberta, fragmentária e não linear. A questão que proponho não é a busca de um sentido que nos assegure os rumos da leitura, mas a de promover possibilidades. Uma maneira de retirar a linguagem da mão autoritária e vigilante dos censores. Resultado: penso num lirismo errático e numa ira da vida que se faz necessária para que as mudanças ocorram. Uma ira das mulheres quando se colocam como autoras de si mesmas em suas poéticas de vida. Na HQ, as mulheres caídas perdem seus nomes e origens, elas se misturam. Talvez assim, ao se tornarem indecifráveis, elas nos provoquem algo de novo, através de uma descolonização das sensações. Como se elas fossem todas e nenhuma, conhecidas e estrangeiras, próximas e distantes, presentes ou em fuga. Como um estranho “eu” no “outro” (ou na outra), rompendo a hipocrisia dos discursos de alteridade. É perdendo as suas identidades que elas se tornam apenas força, uma força em nós. O destino delas está em nossas leituras, nos escapando a todo instante. Elas não se deixam pegar.

Capa de “Mulheres Caídas”, de Aline Daka

Nos conta mais sobre as artistas que narram e são narradas no livro, em especial, poetas mulheres, que se destacam como uma grande influência no teu trabalho.

Elas são muitas, diversas, potentes e concentram uma força criadora imensa que chamei “mulheres caídas” – e graças a elas que hoje posso me afirmar como autora. Na criação da HQ, reuni escritoras e artistas que são comumente chamadas de “malditas”, “marginais”, “intimistas”, “trágicas”, “confessionais”, ou ainda, “desconhecidas”, “anônimas” e “menores”. Sylvia Plath, por exemplo, é uma de minhas poetas favoritas. Amo a força imagética dos seus poemas, os cortes, giros e deslocamentos ferozes. Assim como seus escritos de diário que pensam o exercício da poesia e que me acompanham faz muito tempo em indagações semelhantes sobre a vida. Na HQ ela ganhou duas páginas. Brinquei um pouco com o clichê que a envolve, mas à procura de uma quebra, que faça criar algo mais substancial, que nos faça novamente amar, nos arrancando da banalidade da linguagem cotidiana.

Também junto a ela a argentina Alejandra Pizarnik, a iraniana Forough Farrokhzad, a polonesa Halina Poświatowska e a brasileira Stela do Patrocínio, por exemplo. Essas poetas convivem com escritoras beatniks como Diane di Prima e Joyce Jonhson, mais próximas da experiência das punks, das modernas às pós-modernas. Dessas, eu reuni escritos de um arquivo pessoal da época punk no Brasil e no exterior, assim como as fotografias que utilizei pra desenhar. Na época da confecção da dissertação, entrei em contato com essas mulheres que foram punks e fizeram parte dessa história, muitas delas me cederam gentilmente materiais para a pesquisa, sendo ilustradas na HQ. E há também as artistas visuais, dançarinas, roqueiras, atrizes… Conhecidas ou não, parte da história da arte ou não, de existências literárias ou reais, mas estão presentes, nesse sentido, também enquanto poetas, como produtoras de uma poiésis. Uma poesia da experiência da mulher na criação da arte.

Posso me dizer uma leitora viciada em poesia, o que quer dizer que não apenas consumo livros de poetas mulheres, mas convivo com elas subjetivamente, e as tenho ilustrado em revistas de arte e literatura faz bastante tempo, como o Jornal Rascunho e a Revista Nota do Tradutor, da qual faço parte da equipe editorial.

Gostaria que você falasse mais sobre a costura de vozes do livro – “como se elas fossem todas e nenhuma”, como você já escreveu.

Quando estava desenhando a HQ, essas “falas” apareciam no trabalho de uma forma muito cacofônica, misturadas, complementando-se, conflitando-se, criando outras falas, num movimento de expansão espiralado como se tivessem vida própria (aliás, tinham). Algo como no poema Pedra Fundamental do livro Inferno Musical de Alejandra Pizarnik, no puedo hablar con mi voz, sino com mis voces. Essas vozes de experiência feminina e/ou feminista se misturaram às vozes de alunas, como as que tive contato durante um projeto que trabalhei com meninas vítimas de violência sexual (10 a 14 anos), numa escola da periferia de Novo Hamburgo. Nesse projeto trabalhamos com artistas mulheres e linguagens do livro de artista, do diário. Eu tive contato com “conficções”, como costumo chamar – seus relatos confessionais transmutados em confeccionais –, fazendo com que elas se recriassem pela ficção de si mesmas.

Então, na HQ eu fiz o que denominei cacografia: troquei as falas das figuras desenhadas de forma anônima, ou melhor, sem identificação, apesar das claras referências de algumas delas. Coloquei nas bocas das figuras as falas trocadas (o recurso dos balões de fala nas HQs), costurando essas vozes, que por vezes era feito aleatoriamente, noutras de forma proposital, e acrescentei falas minhas, imediatas e de escritos que mantenho em diários. Isso aconteceu seguidamente a tal ponto que eu já não sabia mais o que era delas e o que era meu.

É como se elas fossem “todas e nenhuma”, assim como a noção de “eu”, no sentido de que as identidades deram lugar à visibilidade de uma força comum, e que as atravessavam, permitindo que essa força seja agora compartilhada com quem tenha contato com elas. Assim acredito. E como elas me instigaram a criar, tento fazer com que elas retornem, existentes, instigando outras pessoas a criarem, a partir da potência de uma sensação, pois se trata de nós mesmas, de nossas vidas. Essa costura tem um pouco a ver com a técnica do cut-up, muito utilizada na literatura beatniks dos anos 1950-60.

E como essas vozes ganharam forma graficamente? Como você pensou a relação entre texto e imagem em Mulheres Caídas?

A linguagem das HQs é fascinante do ponto de vista da criação gráfica. Ela nos permite trabalhar imagem e palavra de infinitas maneiras, inclusive proporcionando as noções de “falas”, e se exploramos a ideia de fragmento, perdemos de vista os limites de uma composição. No caso do preto e branco, pois trabalho com nanquim sobre papel, é como um jogo, oportunizando muitos contrastes, acordos e conflitos, simetrias e assimetrias.

Pensei numa relação em que transparecesse uma expressividade intuitiva em movimento, como se fosse possível capturar, ou congelar, numa imagem, o movimento do gesto fazedor que escapa no instante de leitura – aquele mesmo movimento diarístico que comentei, que é informal, despretensioso e livre de cânone ou satisfações. Tanto que algumas palavras estão escritas ou separadas propositalmente “erradas”, como uma provocação, de forma que a gramática portuguesa (ou brasileira) me reprovaria.

Além disso, os escritos não respeitam uma ordem cronológica, ou “da esquerda para a direita”, sendo muitas vezes espiraladas, como um desses rascunhos que fazemos em torno de uma página de livro. Tudo isso é pra dar uma ideia de pensamento em movimento, de vida. As páginas são desenhadas de forma não linear e como se estivessem soltas, permitindo que a leitura tenha múltiplas entradas e saídas, o que oferece muita autonomia. No entanto, sei que as composições são muitas vezes acumuladoras, maneiristas, difíceis num primeiro momento, naquele em que o envolvimento ainda é tímido. Mas tudo é uma questão de disponibilidade, e na HQ não precisamos começar por entender nada, basta começar pela sensação.

Como você vê o espaço atual das mulheres nas artes gráficas? Poderia citar artistas que você admira?

Eu vejo com grande alegria o movimento experimental e expressivo das mulheres nas HQs. Comecei lendo Guido Crepax e Lourenço Mutarelli, nos anos 1990, desconhecendo a produção de mulheres nessa arte. Mas atualmente tem crescido o número de publicações que nos permitem chegar a essas autoras. Além disso, autoras contemporâneas a nós que são geniais. Recentemente li o trabalho de Liv Strömquist e fiquei em êxtase gráfico-literário. Vi uma entrevista dela, e saber que ela também começou fazendo fanzines no movimento punk foi demais, muito familiar. Eu havia sentido essa influência no seu trabalho, essa linguagem “zineira” conectando uma pesquisa que também utiliza a filosofia para pensar. Das últimas leituras posso citar a Jacky Fleming, a Una – que também é acadêmica e pesquisa a violência de gênero –, a Marjane Satrapi, a Patricia Breccia e a maravilhosa Zehra Doğan. Também as experimentais pioneiras Kuniko Tsurita, Charlotte Salomon, Erika Klien e Rose O’Neill. Das brasileiras, gaúchas, sou fã da Ana Luiza Koehler e da Grazi Fonseca, que inclusive ilustra a revista Parêntese.

Por fim, o que você está pesquisando no doutorado? Pretende produzir uma tese gráfica, como fez no mestrado?

Sim, estou produzindo uma tese como um ensaio gráfico em HQ, só que agora utilizando o grafite sobre papel para criar uma nova estética, e investigando o processo de criação como foco, pensando o desenho também como forma de desenhar a vida e de aprendizagem. As mulheres ainda são a principal referência, mas agora estou com o olhar no fazer, no processo intuitivo do criar, por isso artistas de HQs também estão presentes. O trabalho como professora de arte com adolescentes tem me instigado a pensar esse nascimento da arte, da poética, esse outro nascimento, como escreveu a poeta Farrokhzad: plantarei minhas mãos no jardim/ brotarei/eu sei, eu sei, eu sei, em que nos recriamos através da arte. Mas isso não se dá milagrosamente, é parte de um processo de trabalho investigador, que é o que eu gostaria de afirmar. Um processo de resistência que gera uma nova vida.

A HQ Mulheres Caídas, de Aline Daka, está em pré-venda na Amazon.

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Escute o episódio do podcast Colapso Cast que tem Daka como convidada.

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