Maithan apresenta sonoridade contemplativa em álbum de estreia
O violonista Maithan apresenta um olhar contemplativo para os ciclos da vida e da natureza em seu álbum de estreia, que combina suas principais referências estéticas ligadas ao violão. Ao longo de 10 faixas, o compositor reúne elementos da música regional e nacional, em diálogo com tradições latino-americanas e da música de concerto.
Em Maithan, viabilizado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, o músico toca violão 7 cordas com Davi Raubach (acordeon), Edu Martins (baixo acústico), Elias Barboza (bandolim), Ianes Coelho (flauta), Julio Rizzo (trombone) e Mariano Cantero (percussão). A direção musical é assinada por Maithan e Edu Martins.
Nascido em Canguçu (RS) e atualmente vivendo em Porto Alegre, Maithan entende o trabalho como uma apresentação de sua trajetória, aproximando vertentes musicais que o acompanharam ao longo desse percurso. “Busquei um equilíbrio entre soar simples e camadas que um ouvido mais atento pode identificar, com instrumentos solistas trazendo a melhor expressão da melodia de cada faixa”, afirma o músico, 33 anos, ressaltando o desejo de uma sonoridade “amadeirada” e naturalista. “Meu pai era marceneiro. Cresci no meio da serragem, do pó da madeira, trabalhei com ele uns anos. O fruto não cai muito longe do pé.”
Entre suas inúmeras influências – que incluem Guinga, Egberto Gismonti, Lúcio Yanel, Radamés Gnattalie Vitor Ramil–, o instrumentista destaca o encontro de flauta e acordeon no Renato Borghetti Quarteto e a formação do Quartchêto, com a presença do trombone de Julio Rizzo – que participa de Lonjuras, um dos destaques de álbum, inspirada na vastidão do pampa. “Trago muito desse imaginário do interior na minha música, não necessariamente uma ênfase rural, mas sim o interior do sul do estado, com a paisagem do pampa, o frio, a simplicidade”, conta.
Ele também relaciona a faixa à necessidade de desacelerar. “No nosso jeito contemporâneo de viver, demos muito pouco tempo e espaço para as coisas”, reflete Maithan, apreciador da “artesania do tempo” com a qual molda pães de fermentação natural, um de seus hobbies.
Em Aguaceiros, o violonista busca diálogo com Astor Piazzolla, evocando a expectativa que antecede uma tempestade: “Sempre me fascinou observar as cores de uma chuva de verão que se aproxima”. Paisagens Perdidas (I – Aragem; II – Descampado) faz referência a um poema de Jayme Caetano Braum e nasce de um exercício de “amadrinhamento” dos versos – o acompanhamento instrumental da declamação de poesia –, enquanto Rua da Ladeira rememora caminhadas de Maithan pelo Centro Histórico de Porto Alegre e seu contato com o choro na cidade.
Em Respiro, última faixa do álbum, uma melodia vocal remete à experiência de Maithan como arranjador de corais em uma igreja – outro exemplo da trajetória diversa do artista, que já concebeu trilhas sonoras para espetáculos de artes cênicas e participou de gravações do músico Juliano Guerra.
O compositor lembra que sua relação com o violão começou na adolescência, aproveitando o instrumento que o irmão ganhara de um amigo. “Por incentivo da minha irmã, comecei a fazer aulas de música e foi justamente o momento de abraçar aquele violão. Com a orientação do meu pai, restaurei, troquei o jogo de tarraxas, colei partes quebradas, lixei, pintei e até colei um escudo no tampo pra ficar estiloso”, conta o músico, que em 2012 se tornou bacharel em Violão pela Universidade Federal de Pelotas.
Na graduação, Maithan integrou o Quinteto Guitarreria, grupo instrumental coordenado pelo violonista e professor Thiago Colombo, que segue de perto o percurso do ex-aluno: “O Maithan tem muita base teórica e inova a partir de tradições que conhece muito bem. O álbum é um trabalho excepcional, de muita maturidade, inserido nessa estranha identidade gaúcha, que pertencente a vários lugares, com um tom fronteiriço”.
No perfil de Instagram de Maithan, serão divulgados os detalhes dos shows de lançamento do álbum em Camaquã, Canguçu, Pelotas e Porto Alegre, previstos para os últimos meses de 2023. As atividades do projeto incluem oficinas ministradas pelo músico e uma apresentação didática para escolas públicas.