Juremir Machado da Silva

Caminhos de Portugal

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Caminhos de Portugal A direita republicana venceu as eleições legislativas antecipadas em Portugal | Foto: Aliança Democrática/Reprodução

A direita republicana venceu, por margem mínima, as eleições legislativas antecipadas em Portugal. Aliança Democrática, formada pelo PSD e por dois pequenos partidos conservadores precisarão compor com outro grupo para formar o novo governo. É um regime parlamentarista. O Partido Socialismo, no poder há dois anos, chegou logo atrás. Na ponta do lápis, a direita cresceu um pouquinho, a esquerda encolheu bastante e a extrema direita, do Chega, de um salto enorme para a frente, multiplicando a sua bancada por quatro. O que fazer agora? Num mundo sereno, em torno de um programa preciso, AD e PS poderiam se juntar para governar. Esquerda e direita juntas?

Por que não? Pior para o país será se a AD se aliar com o Chega. A extrema direita xenófoba será a maçã podre que contaminará o cesto de frutas. Durante muito tempo fui contra alianças de ocasião entre esquerda e direita. É um purismo que a realidade não custa a revelar. As razões pelas quais certas coisas não acontecem em políticas podem ser menos nobres do que a defesa de princípios e ideologias. Talvez o PS não queira se comprometer, preferindo esperar o fracasso da direita, que, de qualquer modo, prometeu não se misturar com o Chega.

A manchete do jornal português O Público, um dia depois das eleições, não pode ser acusada de leviandade: “O caos, a explosão do Chega e um país que (dificilmente) se deixará governar”. A taxa de abstenção, num país sem voto obrigatório, foi a mais baixa em quase 30 anos. Mesmo assim, chegou aos 35%. Parte dos portugueses, a exemplo de boa parte dos europeus, não se dão o trabalho de ir às urnas sustentar a democracia. A ascensão do Chega tem a ver com a imigração, especialmente de brasileiros, que incomoda muita gente em Portugal. Conservadores democratas e socialistas juntos seria uma forma de barrar o caos e de tentar dar governabilidade ao país.

No mundo inteiro eleitores parecem escolher por erro e acerto ou, melhor, por exaustão. Um terço vota sempre à direita, outro terço vota à esquerda, o restante oscila, balançando a favor de um lado ou de outro conforme o tempo de desgaste de quem está no poder. A esquerda reinou. O leitor já se cansou e virou para a direita. Se existe o eleitor ideológico e eleito pragmático, há também quem pense em resultados equilibrados. Por toda parte, a extrema direita cresce, impulsionada pela esfera pública das redes sociais, onde o ódio conta mais do que a racionalidade. Portugal tornou-se um case. Nas redes, esquerdistas já defendem que socialistas não caiam na armadilha de uma aliança com a direita. Querem é que AD se una com o Chega e, juntos, naufraguem. São os antipragmáticos eleitoreiramente muito práticos.

Tambor tribal (Zilá Bernd e Léa Masina)

Crítica literária reputada e professora de literatura, com muitos livros publicados, a professora Zilá Bernd foi eleita para a Academia Rio-grandense de Letras. Um dos mais recentes livros organizados por Zilá Bernd é o excelente Literatura, memória e identidades plurais (Oikos). Professora aposentada da UFRGS, ela continua no magistério superior e na pesquisa como docente da Universidade LaSalle. As literaturas de excluídos são sua especialidade.

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Professora aposentada da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Léa Masina ajudou muito jovem escritor a entrar na profissão. Na última sexta-feira, 8 de março, Dia internacional da Mulher, reuniu-se uma mesa em torno dela, com Clarice Kowacs, Gustavo Czekster, Juarez Guedes Cruz e Rafael Jacobsen, organização de Vera Cardoni, para falar do seu livro De tudo fica um pouco, balanço de uma vida dedicada aos livros. Um delicioso momento sobre a paixão pela literatura, a importância da franqueza na avalição de textos e o valor da elegância na hora de dizer coisas mais duras.

Gustavo, Clarice, Léa, Juarez e Rafael | Foto: Juremir Machado da Silva

Parêntese da semana

“Parêntese #216: Quem é?”. Luís Augusto Fischer: “Fico sinceramente tentando entender como funcionam a cabeça e a alma dos bolsonaristas. Não de todos, porque alguns certamente serão gente simples de entender, mais ou menos com o Hermógenes, personagem do Grande sertão: veredas, que era mau até na escuma do bofe. Penso nos apoiadores mais triviais. Gente com cara de vizinho, de tio ou tia, gente capaz de dar esmola para um pedinte, gente que trabalha de verdade e não fica enganando décadas a fio, como o chefe deles.”

Frase do Noites

John Dewey dizia que “aprendemos quando compartilhamos experiências”. O iluminista ressalva: “Aprendemos quando compartilhamos experiências com quem as tem”. Nunca esquecer isso.

Imagens e imaginários

No Pensando Bem, que vai ar todo sábado, 9 horas, na FM Cultura, 107,7, em parceria com a Matinal, a revista Parêntese e a Cubo Play, e apoio da Adufrgs Sindical, Nando Gross, eu e Luís Augusto Fischer, de volta dos Estados Unidos, entrevistamos o escritor, músico e cineasta Carlos Gerbase, diretor de filmes como “Tolerância”, assistente de direção de um curta clássico, “Deu pra ti, anos setenta”, de Nelson Nadotti, e codiretor, com Giba Assis Brasil, de “Ano verdes”. Um papo ágil sobre livros, filmes e os 40 anos da banda Os Replicantes.

Escuta essa

Carlos Gerbase está de volta aos palcos. Haverá comemoração dos 40 anos da banca Os Replicantes no Bar Opinião. Então, vamos lá, galera, ouvir o maior sucesso do grupo: “Surfista calhorda”.

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