Juremir Machado da Silva

Acertos e erro de Lula no G7

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Acertos e erro de Lula no G7 Lula defendeu um mundo multipolar na conferência do G7 | Foto: Ricardo Stuckert / Palácio do Planalto

O presidente Lula brilhou no G7. Conversou com todo mundo. Ninguém lhe virou a cara. Não ficou encurralado num canto, nem comeu miojo. Apareceu sentado ao lado de Joe Biden como dois amigos de infância. Fez política internacional de alto nível. Em dois discursos, meteu dedos nas feridas na ordem internacional dominada pelos ricos. Em primeiro lugar, mostrou o absurdo de um conselho de segurança da ONU ainda restrito a cinco países como produto da Segunda Guerra Mundial. Além disso, mostrou que “a arquitetura financeira mundial” está falida. Detonou o neoliberalismo e a política do Estado mínimo. Revolveu as contradições dos donos mundiais do poder, sempre tão seletivos, rápidos para agir em alguns países e lentos em outros.

Lula questionou a inação no Haiti, que precisa de ajuda para se desenvolver, e no eterno conflito entre Israel e Palestina, onde a balança costuma pender para o lado que mantém colônias em territórios que não lhe pertencem. O presidente brasileiro cobrou também o fim das armas nucleares, lembrando que se está à beira de uma guerra com armas atômicas, e exigiu mais coerência. Os discursos de Lula foram bem calibrados: “É preciso romper com a lógica de alianças excludentes e de falsos conflitos entre civilizações. É inadiável reforçar a ideia de que a cooperação, que respeite as diferenças, é o caminho correto a seguir”. A volta do Brasil ao cenário mundial está consagrada.

Qual erro de Lula em Hiroshima? Não ter se unido de forma definitiva aos que condenam taxativamente a Rússia pela invasão da Ucrânia e adotam medidas contra o imperialismo de Vladimir Putin. Outro dia, eu conversava com o sociólogo francês Dominique Wolton, autor de “Comunicar é negociar”, e ele dizia com tristeza:

– A Europa democrática admira Lula, mas está perplexa com ele. É preciso dizer à esquerda latino-americana e a Lula que além do imperialismo americano existe também o imperialismo russo.

Lula está certo em defender um mundo multipolar, mas fazer isso às custas da Ucrânia, que teve seu território invadido e em parte apropriado, com base na ideia de que o agredido provocou, tem algo de oportunismo. É verdade que, diante do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, Lula condenou a “violação da integridade territorial da Ucrânia”. No entanto, ainda não tirou o Brasil da pretensa ideia de neutralidade no conflito. Em relação a um discurso feito em Abu Dhabi, há um mês, em que equiparou Rússia e Ucrânia como responsáveis pelo conflito, já foi um avanço. Espera-se mais, que o Brasil aponte a Rússia como agressor e ajude a Ucrânia a se defender. Nada mais.

Os números dos quase cinco meses de governo Lula são bons. Falta só ajustar o discurso em relação à guerra da Ucrânia. Sei que a esquerda brasileira discordará com base em supostas noções de geopolítica e empurrada pelo velho antiamericanismo, tantas vezes justificado, mas não sempre. O imperialismo desta vez é russo.

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