Disputa estável torna Leite favorito ao Piratini, apontam cientistas políticos
Especialistas citam desunião da esquerda como fator relevante na eleição para governador e divisão da direita como incentivo ao voto útil na corrida para senador
Cientistas políticos ouvidos pelo Matinal avaliam que o cenário da disputa para governador no Rio Grande do Sul é estável, com o candidato Eduardo Leite (PSDB) favorito ao Piratini em uma eleição com 2º turno. Segundo os especialistas, a corrida ao Senado está aberta com o bom desempenho de Olívio Dutra (PT) nas pesquisas, equilibrando forças principalmente com Ana Amélia Lemos (PSD).
A análise dos pesquisadores está de acordo com as últimas pesquisas Ipec no RS, divulgadas na sexta-feira. Na disputa para governador, Leite tem 38%, Onyx Lorenzoni (PL) soma 26% e Edegar Pretto (PT) aparece com 10%. Na corrida para senador, Olívio tem 28%; Ana Amélia soma 25% e Hamilton Mourão (Republicanos) alcança 19%.
A reportagem do Matinal conversou na semana passada com Benedito Tadeu César, professor aposentado de Ciência Política da UFRGS e diretor da Rede Estação Democracia; Céli Pinto, professora emérita da UFRGS e doutora em Ciência Política; Rodrigo Gonzalez, professor do departamento de Ciência Política da UFRGS; e Augusto Neftali de Oliveira, professor da Escola de Humanidades da PUCRS. Na semana passada, o Matinal publicou uma análise deles a respeito do cenário nacional.
“Se tivesse que mudar, já teria mudado”
“As candidaturas do PT deram certo no RS quando o campo trabalhista, com PDT e PSB, conseguiu atrair o centro. Isso só acontece quando esses partidos estão unidos. E eles se dividiram completamente nesta eleição”, disse César. Para o pesquisador, Leite conseguiu atrair votos que seriam de Luis Carlos Heinze (PP) por conta de sua boa relação com os prefeitos. Além disso, na opinião do especialista, o argumento de que Leite renunciou ao mandato, que poderia prejudicar o tucano, “não colou”.
“O cenário no RS, se tivesse de mudar, já teria mudado”, afirmou a professora Céli. “A única dúvida que ainda existe é quem será o senador”. Para ela, a figura de Olívio Dutra colocou a esquerda em condições de fazer uma disputa acirrada com a grande força do polo da direita, que, na opinião da professora, é a candidata Ana Amélia Lemos.
Fragmentação de candidaturas
Oliveira avalia que a campanha de Edegar Pretto ao Piratini não conseguiu se conectar com o nome de Olívio e de Lula a ponto de fazer seu nome crescer nas pesquisas. De acordo com o cientista político, a falta de levantamentos eleitorais dificulta a análise, mas a impressão é de que o eleitor gaúcho tenta casar votos em Lula e Leite. “Se o Edegar conseguisse capturar uma parte desses votos poderia fazer uma votação melhor e alcançar o Onyx”, observou.
Gonzalez citou a divisão do campo bolsonarista como uma vantagem a Eduardo Leite e a Olívio, ressaltando as chances de vitória mais claras ao candidato do PSDB. “O Leite tem uma condição real de chegar no 2º turno e vencer. Temos uma situação de muito mais fragmentação das outras candidaturas. De 1994 a 2014, a eleição aqui foi polarizada entre direita e esquerda. Esta não é tão polarizada”, afirmou. Para o Senado, a divisão na direita abre espaço ao voto útil, segundo ele. “Eventualmente, um eleitor do PSB e de outros grupos vai dizer que importante é derrotar o bolsonarismo”. Gonzalez lembrou que o voto para cargos legislativos costuma ser decidido mais perto da eleição.