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Trabalho dos sonhos

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Trabalho dos sonhos Parte da equipe em evento promovido pelo Matinal no Agulha em 4 de março de 2020. Poucos dias depois saiu o decreto municipal que deu início ao isolamento social em Porto Alegre por conta da pandemia

Esses dias eu estava em um casamento de dois amigos jornalistas. Na nossa mesa, além do meu marido, também jornalista, outros três colegas de profissão. Não demorou para começar o coro de queixas, seja porque o trabalho em grandes redações está cada vez mais precarizado ou porque a busca pela audiência é insana ou ainda as pressões comerciais e ideológicas são frustrantes. Eis que um deles vira pra mim e fala:

“Mas tu não pode reclamar!”

Hoje faz exatamente três anos que eu estou no Matinal. Não é exagero falar em trabalho dos sonhos. Daquele sonho que alimentei na faculdade, como tantos outros estudantes de jornalismo motivados pela gana de mudar o mundo. Um desejo que não raro vai murchando. Muitos, depois de formados, ficam pelo caminho pela força de um mercado um tanto hostil e acabam em atividades que pouco têm a ver com o jornalismo orientado pelo interesse público.

Nossos jornalistas têm independência para apurar e escrever sobre o que julgarem relevante. Com frequência recebemos comentários animados de leitores e leitoras que gostam do nosso trabalho, como os colegas que estavam à mesa comigo naquela noite. Somos um veículo guiado por valores como transparência e diversidade, comprometido em defender os direitos humanos e contribuir para o debate público e, para a alegria da jovem estudante da UFRGS que fui, a construção de um mundo melhor. A começar pela nossa cidade.

Por isso me orgulham tanto os impactos causados por reportagens nossas, como a que publicamos em 31 de janeiro sobre como festas em Porto Alegre lidam com casos de assédio e violência sexual, a reboque do caso Daniel Alves, acusado de estuprar uma jovem de 23 anos em uma boate em Barcelona. Nossa matéria chegou à vereadora Biga Pereira e pautou a elaboração do projeto de lei nº 026/23, que institui em Porto Alegre o Selo Mulheres Seguras e o protocolo Não é Não – vocês podem saber mais sobre a proposta nesta nova reportagem, publicada hoje.

“Li a matéria e falei para as gurias (do gabinete): ‘é por aqui que vamos começar”, me contou a parlamentar. Biga convidou pelo menos duas entrevistadas nossas para a reunião em que o texto do PL foi debatido com representantes de bares e clubes de futebol, entre outras entidades, para que uma nova versão fosse elaborada. Aceitaram o convite a produtora cultural Nanni Rios e a gerente-geral do Agulha, Camila dos Santos. “Estou animada com o projeto e feliz por fazer parte e dividir o que aprendemos com outros estabelecimentos que nunca pensaram nesse assunto”, me disse Camila. E o impacto não deve parar por aí: segundo a parlamentar, vereadoras do interior a contataram interessadas em apresentar projetos semelhantes em suas cidades.

É isso, minhas amigas e meus amigos. Neste meu aniversário de Matinal, um dia depois do Dia do Repórter, não quero falar das agruras que também recaem sobre pequenas redações como a nossa. Hoje eu só quero celebrar o privilégio de poder trabalhar com o que eu gosto. Com a alma leve de quem acabou de voltar de férias – porque eu também não sou boba.

*

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Fica aqui também registrada minha alegria por trabalhar com gente tão bacana e talentosa, como a equipe do Grupo Matinal, incompleta nesta foto tirada na festa de final de ano em dezembro de 2022

Marcela Donini é, há três anos, uma orgulhosa editora-chefe do Grupo Matinal Jornalismo.
Contato: [email protected]

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