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Vereadores da oposição miram 2024 para “desbolsonarizar” Porto Alegre

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Vereadores da oposição miram 2024 para “desbolsonarizar” Porto Alegre Reunião nesta segunda foi primeira de série de encontros pretendidos pela esquerda | Foto: Bruna Porciúncula / Divulgação

Bloco formado por PSOL, PT e PCdoB inicia reuniões para articular candidatura da esquerda para as eleições do ano que vem; Com nomes já ventilados, partidos falam em busca por consenso

Formada por integrantes de PSOL, PT e PCdoB, a bancada de oposição na Câmara Municipal de Porto Alegre fez, nesta segunda-feira, 3 de abril, a primeira do que deve ser uma série de reuniões periódicas do grupo. O objetivo, além de traçar uma “resistência” aos projetos do governo de Sebastião Melo (MDB), foi o de começar a construir as conversas sobre uma chapa viável e possivelmente unificada para as eleições de 2024.

“A pauta eleitoral entrou e consideramos que ela é necessária”, afirmou o líder da oposição na Casa, Roberto Robaina (PSOL). “A tarefa de ‘desbolsonarizar’ está posta. O Melo é um articulador da direita na cidade e deixa correr a extrema direita. Ele permite o bolsonarismo se manter organizado”, argumentou. 

Robaina destacou que as conversas terão como norte a busca de um nome que seja consenso entre os partidos de oposição. Segundo ele, já há nomes ventilados, mas ainda não existe um encaminhamento para uma definição de quem poderia concorrer pela esquerda nas eleições do ano que vem. Caso não seja possível chegar a um acordo, ele defende que sejam realizadas prévias para definir a chapa, com metodologia ainda a ser definida.

A presidente do PT em Porto Alegre, Maria Celeste de Souza, não estava na reunião, mas ressaltou a importância da conversa entre integrantes do campo da esquerda. Entretanto, ela afirmou que o foco por ora é a organização em nível municipal da federação PT, PCdoB e PV. “Queremos agilizar isso para que a gente possa dialogar com a outra federação (PSOL e Rede) e avançar neste debate sobre Porto Alegre com os partidos de esquerda e centro-esquerda”, disse ela, que entende ser necessário também abrir diálogo com legendas como PDT e PSB. 

Nem trabalhistas, nem socialistas estiveram presentes neste primeiro encontro, contudo. Além de Robaina, participaram os vereadores Pedro Ruas e Karen Santos (PSOL), Engenheiro Comassetto e Jonas Reis (PT), Giovani Culau e Abgail Pereira (PCdoB), além dos deputados estaduais Miguel Rossetto (PT) e Luciana Genro (PSOL) – na condição de presidente estadual do PSOL –, do presidente estadual do PCdoB, Antônio Augusto, e da deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL).

Na carona de 2022

Mas antes de bater martelo sobre os nomes dos futuros candidatos, a meta das reuniões do campo progressista será a de construir um “movimento” para ganhar mais capilaridade e agregar mais pessoas, explicou Robaina. “Tem como crescer se tem um movimento democrático. Se criar uma ideia de movimento, dá para atrair partidos, setores da sociedade”, disse.

Este “movimento” se aproveitaria dos resultados obtidos nas eleições de 2022 em Porto Alegre, onde o presidente Lula venceu Jair Bolsonaro com quase 60 mil votos a mais. Para o Senado, Olívio Dutra obteve 99 mil votos a mais que o eleito Hamilton Mourão (Republicanos). O PSOL ainda teve os deputados federal e estadual mais votados na Capital, Fernanda Melchionna e Matheus Gomes, respectivamente. Ao mesmo tempo, o PT foi a legenda mais votada tanto para federal quanto estadual. 

Neste cenário, a presidente do PT desconversou sobre nomes e reforçou que o PT tem bons quadros, além dos nomes mais antigos, como os ex-prefeitos Olívio Dutra, Tarso Genro e Raul Pont. “O PT tem nome, assim como o PSOL e o PCdoB. O PT elegeu quatro deputados estaduais com base em Porto Alegre”, pontuou ela, que acha precoce aprofundar debates sobre nomes neste momento. “A minha preocupação é não ter atropelos quanto ao processo, ao mesmo tempo criar um calendário para que todos possam debater”, concluiu. 

“Resistência” para evitar “retrocessos”

Se há certo otimismo quanto à construção de um caminho único para a esquerda nas eleições, dentro do plenário da Câmara a situação é mais complicada, reconheceu Robaina. Para ele, o bloco irá se pautar pela “resistência” ao longo deste ano, o penúltimo da gestão Melo. Por ser minoria na casa – são dez vereadores de um total de 36 – a oposição não deverá ver seus projetos aprovados, admitiu o parlamentar.

“O governo só não tem maioria para alguns projetos. Hoje não temos condições de criar legislações progressistas, então tentamos evitar retrocessos”, analisou. “Essa resistência se dá tentando demonstrar o que está em jogo em alguns projetos. Por exemplo: toda a política da Prefeitura em relação à habitação tem como centro ligar Porto Alegre à especulação imobiliária, com condomínios de luxo, arranha-céus”, citou. “Política popular para habitação não tem nenhuma.”

O vereador ainda criticou a falta de participação popular nos eventos relacionados à revisão do Plano Diretor. “O governo não estabelece canais de participação e as pessoas não vão espontaneamente participar”, afirmou ele, recordando a conferência de avaliação do plano, realizada mês passado, na PUCRS: “As conferências aconteceram em dias de trabalho e à tarde”.


Tiago Medina é editor no Matinal Jornalismo. Contato: tiago@matinaljornalismo

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