Entrevista

Hélgio Trindade: Sonho e realização (parte 2)

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Hélgio Trindade: Sonho e realização (parte 2) Inauguração do ILEA/UFRGS.

Segunda parte da entrevista com o ex-reitor da UFRGS, a primeira parte está aqui.

HT – Após o retorno ao Brasil, sempre muito envolvido com aulas e pesquisas, começo a fazer pós-doutorados ou a atender convites para ser professor ou pesquisador-visitante em várias universidades ou centros de pesquisa internacionais. Inicio pela instituição em que me doutorei, no Centre d´Études de la Vie Politique Française (CEVIPOF),  local institucional dos especialistas em pesquisas político eleitorais. Duas vezes estive no Centre d´Études Internacionales (CERI), como pesquisador-visitante em pesquisas sobre os “partidos militares” (Alain Rouquié) e análise comparativa das transições democráticas na Europa (Guy Hermet) e América Latina. Fora da França fui pesquisador visitante na Universidade de Oxford e, ao final de minha gestão como Reitor da UFRGS, obtive uma bolsa da CAPES para ser pesquisador-visitante na Bolivar House, na Stanford University. Posteriormente, fui ainda pesquisador-visitante na École des Hautes Études en Sciences Sociales, ocasião em que comecei a minha pesquisa sobre as Ciências Sociais no Brasil em perspectiva latino-americana. Com a posição conquistada em um concurso aberto com pesquisadores franceses concorrendo, assumi a obrigação de desenvolver minha pesquisa em associação com o Centre de Recherches du Brésil Contemporain (CRBC), coordenado por Afrânio Garcia. 

Com relação a esta área, o primeiro livro foi publicado pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, em 2021, em Buenos Aires, como bolsista sênior do CNPq, cuja edição em e-book pode ser acessada gratuitamente pelo site do CLACSO.  Atualmente, com a bolsa sênior renovada pelo CNPq até 2027, estou escrevendo o livro sobre as ciências sociais em todo o país, com cerca de 800 entrevistas feitas por mim ao longo de mais de dez anos, com cientistas sociais (antropólogos, sociólogos e cientista políticos) de cinco gerações, em todas as universidades públicas federais brasileiras. 

Uma das mais importantes experiências para conhecer a América Latina foi a de representar o Brasil, durante oito anos, no Conselho Diretor do CLACSO, juntamente com Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora titular na USP, ao lado de outros professores que representavam os seus respectivos países. Geralmente o Secretário Geral do CLACSO era um argentino, pois esta instituição foi fundada por um grupo de sociólogos e economistas daquele país. Os outros membros do Conselho também representavam os seus países de origem: Argentina, Bolívia, Chile, México, Peru, Uruguai etc. Essa experiência no CLACSO permitiu-me conhecer todos os países latino-americanos e seus principais professores e pesquisadores ativos na área de Ciências Sociais.

Nesse período, encontrei-me em viagem ao Peru, por acaso, com um professor italiano da Universidade de Florença, Alberto Sperafico, visitando Machu-Pichu. Numa conversa informal contei-lhe da minha tese sobre o Integralismo e ele imediatamente me propor fazer um Colóquio Internacional na sua universidade sobre o “Fascismo latino”: ele convidaria os especialistas italianos, eu me encarregaria dos especialistas portugueses (Salazarismo), espanhóis (Franquismo e partidos fascistas), os franceses (Parti Populaire Français,.de Jacques Doriot, Le Parti Social Français, Le Faisceau de Georges Valois), belgas (Rexismo). Além desses deveria convidar um especialista dos Estados Unidos (Juan Linz, da Universidade de Yale) e outro da América Latina, Jorge Graciarena, da Universidade de Buenos Aires. Apesar de meu ceticismo inicial o evento foi um sucesso: ocorreu numa tradicional Villa fiorentina, de propriedade da Prefeitura do Florença, cedida gratuitamente ao evento por três dias, com os participantes apresentando seu tema a ser debatido em torno de uma grande mesa.

P – ANPOCS (Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-graduação em Ciências Sociais)

HT – Uma posição de liderança nacional nas Ciências Sociais ocorreu a partir da criação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais, em 1978. Fui membro das duas primeiras diretorias, presididas por Francisco Weffort, professor de Ciência Política da USP. Após as presidências dos cientistas políticos Francisco Weffort (USP), Fábio Wanderley Reis (UFMG), Wanderley Guilherme dos Santos (IUPERJ), eu fui o quarto presidente da ANPOCS, tendo como Secretário Geral o hoje Professor Emérito da USP, Sergio Miceli. 

 P – Eleições para reitor da UFRGS (1991)

HT – Após ter participado do primeiro cargo na Reitoria da UFRGS, como Pró-Reitor de Pesquisa e  Pós-graduação, a convite do Reitor Francisco Ferraz (1985-1988), em 1992 houve uma eleição que pela primeira foi aprovada pelo Conselho Universitário (CONSUN) com votação direta dos três segmentos da comunidade universitária (docentes, estudantes e técnicos administrativos). Uma oligarquia dominou a UFRGS por 40 anos, desde a submissão das universidades ao modelo de universidade da legislação dos militares (lei 43 53), embora se deva reconhecer o acerto do investimento estratégico em bolsas de formação pós-graduada no Brasil e no Exterior e a forte expansão pela CAPES dos programas de Mestrado e Doutorados no pais. Com exceção da gestão do Prof. Francisco Ferraz, a UFRGS foi hegemonizada por um pequeno grupo que controlava o conjunto da instituição, com alianças estratégicas, internamente entre as “ciências duras” e fora da instituição com acordos com países europeus ocidentais, sobretudo com a Alemanha Ocidental. Daí que um dos nossos slogans de campanha para Reitoria foi “universidade por inteiro”, ou seja, uma ‘universidade integrada’ em todas as suas áreas de conhecimento e da comunidade universitária em seus três segmentos.   

Nossa vitória nos três segmentos – professores (55%), técnicos-administrativos (67%) e estudantes (83%) – foi algo extraordinário e nunca tinha ocorrido na história da UFRGS. O governo federal, com o Ministro da Educação Goldemberg, não nomeou por mais de quatro ou cinco meses três reitores: o das IFES da Paraíba (UFPB), o de Juiz de Fora (UFJF) e o de Porto Alegre (UFRGS). Foi preciso que o Ministro, apegado ao cargo, ao final do governo Collor já atingido por um impeachment, ficasse até a undécima hora para demitir-se do Ministério da Educação.   

Seria longo reconstituir os quatro anos de gestão democrática na UFRGS, com altíssima legitimidade pelo apoio direto dos sindicatos de professores, dos funcionários e do DCE, entidade que congregava o movimento estudantil. A primeira prioridade, conforme o Plano de Gestão encaminhado ao CONSUN pela nova Reitoria da UFRGS, era a reforma dos Estatutos e do Regimento Geral, ainda fiéis à legislação da Ditadura Militar. Abrimos à discussão na comunidade universitária um projeto encaminhado pelo Reitor anterior para submetermos a avaliação do CONSUN. O Conselho aprovou a manutenção do projeto já encaminhado para ganharmos tempo, e abrimos à discussão e ao envio de novas propostas diretas oriundas de toda comunidade universitária que, enviadas à Comissão de Sistematização do CONSUN, selecionava as melhores enviando-as para o exame e deliberação do órgão máximo.  

O processo desenvolveu-se em cerca de 80 reuniões do referido órgão, e coube ao Reitor discutir artigo por artigo para criar os consensos necessários à votação final, que exigia para aprovação o quórum alto (2/3 dos presentes). Aqui gostaria de referir que foi o aprendizado de minha experiência na condução e gestão do Conselho da União Estadual de Estudantes que permitiu esse feito. No processo posterior, com um pouco menos de reuniões chegamos ao final com a aprovação, por unanimidade, dos documentos que transformaram a UFRGS em uma universidade vocacionada para uma sociedade democrática. Esse período criou um clima tão forte de identidade entre a comunidade universitária e a reitoria, que alguns membros do Consun começaram a apelidar-me de “reitor pedagogo”. No final desse processo, o Reitor reuniu os membros do CONSUN e do COCEP para um retrato conjunto final. Sentia-se o clima de unidade e de alegria pelo resultado alcançado. 

Três momentos novos da gestão desenvolveram-se em função de bons augúrios e fora das previsões do Plano de Gestão: primeiro, a nova relação com a Prefeitura Municipal, com Tarso Genro, e ele convidou-me para encontrar-me com ele acompanhado de seus assessores, secretários e colaboradores. Nessa ocasião falei sobre o óbvio, que até então não entrara na consciência dos gestores municipais: Porto Alegre, como Princeton e Yale nos USA, ou Madrid, Paris, Roma, tem a sede de uma importante universidade em sua cidade. Isto é um privilégio para ambos os lados, que se desperdiça se não há entre eles uma colaboração intensa em todos os ramos do conhecimento.  O prefeito Tarso percebeu o alcance da minha provocação e prometeu que iria fazer um balanço sobre todas as formas de cooperação possíveis entre a prefeitura de Porto Alegre e a UFRGS.  

Daí nasceu um longo espectro de campos de interação, desde a educação municipal até o esgoto de Ipanema transferido para o centro de lago Guaíba, Plano Diretor, Arroio Dilúvio, etc., com cerca de 70 projetos. O segundo momento foi mais engajado, desde a Cidade Educadora (Barcelona) até o Fórum Social Mundial (FSM), que virou, em termos nacionais e internacionais marca registrada de Porto Alegre. O terceiro momento como uma espécie de síntese dos avanços da nova gestão foi o Acordo entre a PMPA e a UFRGS para a implantação e o desenvolvimento de um Polo Científico e Tecnológico em Porto Alegre, e que depois implementou-se na PUC-RS e na UNISINOS (S. Leopoldo).

Esta ideia nasceu de uma viagem minha na delegação do estado do Rio Grande do Sul, presidida pelo Governador Alceu Collares, a Israel, inclusive para conhecer este país, que tinha muitos campos de cooperação importantes que poderiam envolver a UFRGS e as Universidades de Tel Aviv e Jerusalém.  Eu incorporei-me na delegação quando ela tinha chegado a Roma, de onde partiríamos para Israel. Aproveitei minha escala em Paris para dar uma escapada a Grenoble, onde tinha grande interesse em visitar seu Polo Tecnológico, dirigido pelo prof. Martin, que conhecera, vinte anos antes, o Brasil, com bolsa de Assis Chateaubriand para estudar Energia. Minha ideia era trazer o presidente do Polo de Grenoble ao Brasil para avaliar as condições de a UFGRS acolher um Polo Científico-tecnológico. O desdobramento desta visita foi muito importante porque trouxe o presidente que avaliou, dentro de cada área de conhecimento da UFRGS, que a nossa Universidade tinha plenas condições para ser sede de um Polo, inclusive busquei interessar também os Reitores da PUC e da Unisinos. A Prefeitura de Porto Alegre propôs um Convênio com a UFGRS para sediar o Polo Científico-Tecnológico em Porto Alegre. Houve no CONSUN/UFGRS a assinatura solene do referido convênio, com o Prefeito e o Reitor, que depois desdobrou-se de diferentes formas entre as três universidades. Posteriormente, como Reitor da UFRGS, promovi duas viagens ainda com o Prefeito Tarso Genro, os Reitores da Unisinos e PUC para conhecer outros Polos na França e na Espanha, o que permitiu a cada universidade uma boa expertise nesse campo.

O Plano de Gestão também foi construído em cada Pró-reitoria para o debate da campanha eleitoral e sua implementação setorial. Antes do final dos quatro anos de gestão fizemos um relatório das atividades realizadas, integrando todos os relatórios das diferentes pró-reitoras. Este documento foi submetido ao CONSUN para a sua avaliação e encaminhado também à representação no Rio Grande do Sul do Tribunal de Contas da União. Antes da nossa saída da Reitoria tivemos a satisfação de receber do representante do TCU/RS uma carta aprovando plenamente nossas contas da gestão da UFRGS. Posteriormente soube informalmente que essa atitude se devia tão somente à “transparência” da documentação da nossa gestão universitária, desde os planos de gestão apresentados ao Conselho Universitário no inicio da gestão até o Relatório final submetido ao CONSUN e encaminhado simultaneamente ao TCU regional.                                                                                                                                                                                                                                                                                 

P – Educação superior no Brasil (UFRGS), e na América Latina (UNILA) 

HT –A minha passagem pela Reitoria (1992-1996) incrementou meu interesse pelo conhecimento prático (por exemplo, o tipo de universidade subjacente à reforma do Estatuto da UFRGS) e teórico-comparativo, na medida que a Conferência Mundial de Educação Superior, promovida pela UNESCO, em Paris, em 1998, incorporou-se em sucessivos eventos na Região. Este evento mobilizou na América Latina um debate, coordenado pela sede da UNESCO/Caracas. Fui convidado a participar de várias reuniões em diferentes partes da América Latina, sendo que a última se realizou em Cuba, e o meu tema principal era a avaliação da educação superior na América Latina. Os resultados da reunião foram importantíssimos para a problemática das universidades do mundo, mas a relatoria do evento mundial foi atribuída a Jorge Brovetto, ex-reitor da Universidade de La República (UDELAR/ Uruguai) que valorizou as contribuições latino-americanas nas recomendações do evento. 

Na militância ativa dentro da ANDIFES, sob a Presidência do Reitor Newton Lima Neto, da UFSCAR (SP), organizaram-se grupos de trabalho internos sobre os temas prioritários: autonomia universitária, reestruturação do orçamento das IFES, avaliação da educação superior. A mim coube coordenar o último grupo, cuja proposta foi aprovada em reunião do pleno da ANDIFES. Posteriormente, tornou-se o modelo do MEC para as universidades privadas comunitárias, no Ministério de Educação. A regra adotada pelo MEC foi de que a adesão ao novo Sistema Nacional de Avaliação não era obrigatório, mas voluntária. Este modelo, adotado no governo de Itamar Franco (após o impeachment de Collor), foi encaminhado no início do governo Lula, em 2003, para o Congresso Nacional e foi surpreendentemente aprovado por unanimidade. 

Com a demissão do Ministro da Educação Cristovam Buarque, ex-Reitor da UNB na redemocratização, assumiu o Ministério Tarso Genro, que já vinha coordenando o Conselhão, presidido pelo Presidente da República, do qual fiz parte. Neste experimentei uma experiência inovadora e desafiante: havia posições diversas entre os membros, sindicalistas, banqueiros, profissionais liberais, representantes de organizações da sociedade civil, etc. Participei de várias reuniões coordenadas por Tarso; mas o grande momento era quando o Presidente Lula, no meio da tarde, chegava para presidir a reunião. Tinha-se a impressão de que ele tinha já estado na primeira parte da reunião porque sua fala encaixava-se perfeitamente. Foi uma experiência politicamente muito gratificante pela capacidade que ele tinha de responder ou comentar qualquer tema diante dos olhos deslumbrados dos membros do Conselhão.

Optei por abandonar esta atividade quando fui convidado pelo novo Ministro da Educação para dirigir um órgão estratégico para a política de educação superior: o Conselho Nacional de Educação Superior (CONAES), previsto na nova lei aprovada pelo Congresso sobre avaliação das instituições dependentes do MEC: as universidades públicas e privadas. Essas intensas atividades eram de interesse público envolviam viagens por todo o país para apresentar e discutir o Sistema de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e as reuniões periódicas da CONAES em Brasília. Nesse período pude exercer um papel importante no primeiro Governo Lula. 

No segundo governo, o MEC propôs aos Ministros de Educação do MERCOSUL a proposta da criação de uma Universidade financiada por todos os países. O projeto avançou até certo ponto, mas o Uruguai e o Paraguai vetaram, inviabilizando sua implementação: o Uruguai porque para alterar matéria sobre educação superior precisava de aprovação da Assembleia Geral; e o Paraguai por falta de recursos para compartilhar o custo do empreendimento. O projeto, que havia avançado bastante, fracassou numa reunião dos Ministros de Mercosul, em Belo Horizonte, em 2006. 

Em inícios de 2007, estava prevista uma nova reunião dos Ministros de Educação do Mercosul, em Assunção, e o Secretário de Educação Superior do MEC, Ronaldo Mota, chamou-me em seu Gabinete para consultar se eu teria alguma ideia alternativa para o Ministro Fernando Haddad apresentar nessa nova reunião, diante do fracasso da Universidade do Mercosul. Eu prometi pensar e no dia seguinte retornei ao Secretário e informei-lhe que que havia uma alternativa para o Brasil oferecer: criar um Instituto Mercosul de Estudos Avançados (IMEA), que poderia, sem ser uma nova proposta de universidade, coordenar e articular as atividades de pesquisa e pós-graduação existentes nas universidades dos diferentes países do Mercosul. Esta proposta foi levada pelo Ministro, que teve a gentileza de me convidar a acompanhá-lo, no jato da FAB, até a reunião no Paraguai.  

A reunião foi presidida pela Ministra de Educação do país-sede da reunião (uma das que vetara a proposta da Universidade do Mercosul) e contou com quase todos os membros envolvidos no debate do projeto que fracassara. Após uma série de manifestações dos diferentes representantes dos países do Mercosul, o ministro Haddad tomou a palavra para referir-se ao malogrado projeto e preparou o ambiente para eu pudesse apresentar a nova proposta. Falei uma meia hora descrevendo, com respaldo do ministro, a minha proposição. Tão logo concluí, a Ministra da Educação do Paraguai, presidente da reunião, reagiu muito positivamente à proposta e, em sequência, os outros ministros ou representantes foram manifestando-se também favoravelmente. Apenas o desconfiado representante do Uruguai, meu amigo, perguntou-me ao ouvido se essa proposta não seria uma nova forma de propor novamente a Universidade do Mercosul, e eu disse que obviamente não. Voltamos novamente no avião da FAB, o ministro seus assessores satisfeitos com a virada do jogo. Eu fiquei em São Paulo e Haddad seguiu à Brasília para levar o boa-nova ao Presidente.  No dia seguinte ele me telefona de manhã para Porto Alegre para dizer-me que a conversa com o Presidente tinha sido boa e surpreendente: ele achou a ideia do IMEA muito importante e boa para ser implementada, mas ele decidiu agora criar uma universidade federal brasileira, financiada pelo Brasil, mas vocacionada para América Latina, com alunos brasileiros e dos outros países latino-americanos e caribenhos para fazer avançar a integração latino-americana. 

A partir daí, o ministro Haddad, admirador e obediente a Lula, convoca-me para uma primeira reunião para pensarmos, com o apoio do MEC, e elaborarmos um projeto de lei, a ser enviado ao Congresso, de uma nova universidade com um perfil avançado e inovador. Nosso trabalho desenvolveu-se ao longo de 2007, e ao final do ano o ministro submeteu ao Presidente um Projeto de Lei n. 2878/2008, propondo a criação da Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA), com sua sede em Foz de Iguaçu, na Tríplice Fronteira de três países sul-americanos (Argentina, Brasil e Paraguai). Por sua vez, em 7 de janeiro de 2008, a Portaria n.43 de 17/1/2008 da SESu/MEC, designa como Presidente da Comissão a mim. A Comissão foi empossada no Salão de Atos do MEC, em sessão presidida por Haddad, do Secretário Geral do MEC, José Henrique Paim, e do Secretário da SESU, Ronaldo Mota. Após a manifestação do Presidente da Comissão de Implantação da UNILA, o Ministro encerrou a cerimonia com as seguintes palavras: “E o nosso objetivo é justamente este, pensar um modelo novo de universidade. Talvez possamos dar exemplo ao mundo de como promover a integração pelo conhecimento”. A Comissão trabalhou intensamente durante um ano e meio e construiu a concepção da universidade (bilíngue e interdisciplinar), sua estrutura organizativa (Institutos e Centros Interdisciplinares) e como “laboratório de ideias” o IMEA, instalado em 19 de agosto de 2009, após ter sido aprovado pelo Conselho Universitário da UFPR (Universidade-tutora da UNILA). 

No segundo semestre de 2009, antes da aprovação da lei de criação da UNILA no Congresso Nacional, o IMEA instituiu dez Cátedras Latino-Americanas, com o apoio da CAPES, em todas as áreas de conhecimentos como precursoras das reflexões sobre as disciplinas centrais da Universidade e oferecendo diretrizes para sua implementação. E o primeiro evento marcante dessa fase pré-Unila legalmente instituída foi o I Colóquio Internacional: Educação para a Integração Latino-Americana (19 a 22 de agosto de 2009) e Instalado Conselho Consultivo Latino-Americano em 19 de agosto 2009). Em dezembro de 2009, o projeto de lei foi aprovado por unanimidade em sessão do Congresso, presidido pelo Sen. José Sarney e foi sancionado em janeiro pelo Presidente Lula. Em janeiro de 2009 fui nomeado Reitor-Pro Tempore. 

Foi um período muito gratificante difundir a UNILA dentro e fora do Brasil. Os alunos brasileiros eram selecionados pelo Sistema de Seleção Unificada (SISU), com a exigência que antes tivessem estudado em escolas públicas, enquanto os alunos estrangeiros eram pré-selecionados por critérios estabelecidos pelo próprio MEC, examinando o desempenho escolar prévio e posteriormente submetidos a uma prova internacional da UNILA, para assegurar um equilíbrio entre os alunos nacionais e estrangeiros. O português e castelhano são línguas oficiais da UNILA nas aulas/seminários, em que cada um fala sua própria língua, embora o ensino de ambas esteja previsto na formação dos alunos. No segundo ano, o recrutamento dos alunos ampliou-se para outros países da região, incluindo Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Chile, Haiti, etc. 

Deixei a UNILA em 2013 por razões de saúde, e nos anos seguintes o MEC nomeou Reitores pro-tempore sem um perfil latino-americanista, com foi nossa gestão com apoio do ministro Haddad (eu como reitor brasileiro e como vice Gerônimo De Sierra, professor titular de sociologia na UDELAR/Uruguai). Com seus 13 anos de existência, a UNILA foi sofrendo alguns “desvios” do projeto original, inclusive do último reitor, nomeado por Bolsonaro, recentemente derrotado nas eleições por uma professora titular de literatura latino-americana, da primeira geração de professores concursados da UNILA. O seu projeto é de “reconstruir juntos a UNILA”, com o objetivo de retornar ao projeto original no contexto favorável das eleições que derrotaram o período de esvaziamento das IFES, com a gestão de sucessivos ministros de educação incompetentes!

PESQUISAS E LIVROS SOBRE A EDUCAÇÃO SUPERIOR COMPARADA

HT –Desde a época em que me envolvo com atividades acadêmicos administrativas na Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESQ/UFRGS (1985-1988), comecei a olhar a universidade não mais como um mastodonte burocrático impessoal que geralmente dominava as boas intenções dos seus dirigentes, mas como um objeto a ser analisado em uma perspectiva de Ciência Política ou de Sociologia das Organizações.  Dei-me conta, como mencionado antes, que na área de pesquisa e pós-graduação da UFRGS havia um círculo fechado de cientistas autossuficientes que afirmavam com empáfia que, sendo 1/3, eles levavam nos ombros os 2/3 restantes (os docentes de quadro e giz, que não ousavam completar sua formação doutoral tardia e/ou  que não tinham peso nos critérios avaliativos do CNPq e da CAPES. Durante a minha gestão da PROPESP decidi convocar todos os Coordenadores de Programa de Mestrado e Doutorado em todas as áreas de conhecimento para fazermos um debate aberto das avaliações dos conceitos dos programas de PPG da CAPES. O Reitor me recomendou ter muito cuidado em mexer nesse vespeiro e, sobretudo, duvidou que eu conseguiria trazer o então Reitor da Unicamp, Prof. Paulo Renato Souza (futuro Ministro de Educação do Presidente FHC) para o evento. Este veio para uma Sessão de Encerramento com um balanço geral das pós-graduações da UFRGS. Quebrou-se assim um tabu de que era impossível discutir racionalmente o tema.  Pouco a pouco convidei também os nomes mais consagrados (alguns até membros da Academia Brasileira de Ciência) para debaterem os Planos Nacionais Científicos e Tecnológicos. Depois, como Reitor, fundei na UFRGS o segundo (depois da USP) Instituto Latino-americano de Estudos Avançados (ILEA).

P – ABC: (Academia Brasileira de Ciências

HT –Por iniciativa de um grupo significativo de professores da UFRGS das áreas ‘duras’ (geociências, física, genética, biociências, química, engenharias, etc.) fui consultado se aceitaria concorrer à eleição da Academia Brasileira de Ciências, uma vez que um grupo significativo de professores da UFRGS pertencentes a essa academia que gostariam de indicar o meu nome para a vaga disponível nas Ciências Sociais, ao lado das outras áreas científicas. Decidi aceitar a honrosa proposta. A primeira etapa era passar pelo filtro da diretoria da ABC, onde diferentes universidades concorriam com seus mais qualificados candidatos em todas as áreas. Felizmente fui informado que meu nome tinha sido aprovado, juntamente com mais dois colegas da área, para a eleição de membro titular. A segunda etapa que era a mais ambiciosa porque dependia da votação dos colegas de todas as áreas de conhecimento em âmbito nacional. A minha sorte é que tinha atuado bastante como Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação na UFRGS, na gestão do Reitor Ferraz. Assim que, apesar de muitas articulações de bastidor em contrário, derrotei no voto o candidato a sua própria sucessão.

P – Professor emérito

HT – Por indicação do Departamento de Ciência Política da UFRGS, meu nome foi apresentado como candidato a Professor Emérito da UFRGS. Aprovado por unanimidade pelo Conselho Universitário, recebi o título, numa sessão do CONSUN, após a saudação do meu colega e sucessor na disciplina, André Marenco, das mãos do Reitor Carlos Alexandre Netto. 

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