Música | Performance | Reportagens

Honk!POA reúne fanfarras de quatro estados em performances gratuitas

Change Size Text
Honk!POA reúne fanfarras de quatro estados em performances gratuitas Cosmobloco. Foto: Roberto Peixoto

O Honk!POA chega à terceira edição entre os dias 20 e 23 de abril, reunindo mais de 15 grupos de quatro estados em uma série de atividades gratuitas e descentralizadas que incluem apresentações, cortejo, oficinas e roda de conversa – confira a programação completa ao final da reportagem.

As primeiras apresentações do festival – viabilizado por financiamento coletivo – serão realizadas na Praça da Matriz, sexta-feira (21/4), a partir das 14h30. A ocupação de espaços públicos e a gratuidade das performances seguem preceitos internacionais do Honk!, criado em 2006 na cidade de Boston, nos Estados Unidos, e desde então promovido mundo afora. A primeira edição brasileira aconteceu em 2015, no Rio de Janeiro. Nos anos seguintes, o festival foi acolhido em Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Porto Alegre.

Honk!POA 2019. Foto: Renata Ibis

“No Brasil, além das apresentações gratuitas, o Honk! busca se aproximar das comunidades de cada cidade, que fazem parte da realidade brasileira e de ser ativista”, conta Carólis Pizzato, aludindo à proposta do festival de reunir fanfarras ativistas. Carólis integra a equipe organizadora do Honk!POA, formada por integrantes das fanfarras e voluntários, e participa dos grupos Avisem a Shana que Sábado Vai Chover e Bate & Sopra.

Noite de abertura do Honk!POA 2022. Foto: Alexandre Garcia

No sábado (22/4), a atuação descentralizada do Honk!POA ganha espaço na Ilha do Pavão, em parceria com a Associação Vitória; no Morro da Cruz, em colaboração com o Galpão Cultural Casa de Hip Hop; e na Vila Planetário, com a ONG Misturaí.

“Não é só chegar, tocar e ir embora. As trocas entre as fanfarras e as comunidades são muito importantes ao longo da história do festival. Escolhemos os lugares levando em consideração comunidades com as quais já nos relacionamos e outras que podem começar esse diálogo com o Honk!, por meio de associações, ONGs e projetos que desenvolvam atividades para além do festival”, completa a co-organizadora do evento.

O músico Martin Weiler também faz parte da equipe que organiza o Honk!. Ele considera o festival um fomentador do “movimento neofanfarrista” que começou no Rio de Janeiro há pouco mais de uma década e se espalhou pelo país. As fanfarras ou neofanfarras reúnem músicos em formações com instrumentos de percussão e sopro e artistas que realizam performances – em diálogo com as tradições do Carnaval, do circo e do teatro de rua, reivindicando o papel da arte em espaços urbanos como ferramenta de transformação social.

“Esse espaço vem se multiplicando nacionalmente. É uma avalanche que mobiliza cada vez mais pessoas”, destaca Martin, idealizador do grupo Cosmobloco.

Neste ano, o festival começa na quinta-feira (20/4), às 19h, no Museu do Trabalho, com um bate-papo sobre como tornar o evento mais inclusivo. “As fanfarras e o nosso público são bastante diversos, mas quem não é homem, cis, branco, hétero acaba sendo invisibilizado ou silenciado em várias situações. Estamos levantando essa discussão para tornarmos o festival mais horizontal”, ressalta Carólis.

Grupos de Belo Horizonte e Florianópolis estreiam no Honk!POA

Foto: Divulgação Terno do Binga

Pela primeira vez, fanfarras de Belo Horizonte e Florianópolis participam do Honk! porto-alegrense. Entre as estreias, destaque para o Terno do Binga (MG), que busca inspiração em elementos do bumba meu boi do Maranhão e da música pernambucana – maracatu, frevo, cirandas.

“Por isso, o nome ‘terno’, que é a formação musical do maracatu de baque solto, com percussão e instrumentos de sopro”, explica o trompetista Rodrigo Nascimento. A orquestra – como o grupo se define, em homenagem às orquestras cirandeiras de Pernambuco – costuma reunir em torno de 15 integrantes em suas apresentações, com repertório que inclui canções de Lia de Itamaracá e Siba.

De Minas Gerais, também estreiam no Honk!POA as fanfarras Belina Orkestar, que celebra a cultura musical dos Bálcãs e o cancioneiro romani, e Estagiários Brass Band, que tem repertório eclético e reúne dezenas de integrantes em praças de Belo Horizonte às sextas-feiras.

Foto: Divulgação DeSkaReggae

O reggae se soma às sonoridades do Honk!POA com a fanfarra DeSkaReggae, de Florianópolis, criada em janeiro deste ano. Os fundadores do grupo faziam parte um núcleo de estudos musicais da Fanfarra da Ponte – outra participante do Honk!POA – e decidiram se dedicar ao ska e ao reggae, interpretando artistas como The Skatalites e Bob Marley.

A DeSkaReggae ensaia semanalmente com sopros e pekacussões na Praça do Rio Tavares, no sul da ilha. “Nossa primeira apresentação foi no domingo de Carnaval, exatamente um mês após o primeiro ensaio. Foi um sucesso, levando em consideração o pouco tempo de encontros. A vontade de seguir tocando só aumentou com o convite para o Honk!POA”, conta o trombonista Alê Gandra.

“A cena fanfarreira de Florianópolis vem numa crescente muito bonita de se ver, após a Fanfarra da Ponte unir vários músicos em seu núcleo de estudos para o Carnaval de 2022. Também destaco os blocos de tambores Africatarina e Cores de Aidê, que movimentam a cultura musical da ilha há bastante tempo”, completa Alê, curitibano orgulhoso de integrar o movimento das fanfarras na capital catarinense. O trio de fanfarras de Floripa no Honk!POA se completa com a Vai Quem Dá.

Protagonismo negro e feminino nas fanfarras cariocas

Com protagonismo de pessoas negras e do subúrbio carioca, a fanfarra Só Toca Bloco reúne uma grande parcela de instrumentistas que aprenderam a tocar em oficinas de fanfarras e blocos e que encontraram na música sua profissão. Também do Rio de Janeiro, a fanfarra Bloconcé, formada só por mulheres, vem ao Honk!POA apresentar repertório dedicado à cantora Beyoncé.

Entre as participações cariocas, destaque também para as Calcinhas Bélicas, que estrearam no Carnaval em 2019 abrindo uma bandeira de arco-íris de 20 metros no Outeiro da Glória, pedindo respeito à diversidade. Formada exclusivamente por mulheres, a fanfarra nasceu de um grupo que se conheceu numa oficina da Orquestra Voadora, um dos blocos mais conhecidos do Carnaval de rua do Rio de Janeiro. “As Calcinhas não são só um bloco, são também uma rede de apoio. É importante que todo mundo se conheça e saiba quem é quem”, conta a compositora Maranda, uma das idealizadoras do grupo.

O repertório da fanfarra é dedicado a divas do pop internacional, como Amy Winehouse, Cher e Madonna, e nacional, incluindo Fernanda Abreu, Glória Groove, Pabllo Vittar e Rita Lee.

Calcinhas Bélicas. Foto: Larissa Leão

“As mulheres são tolhidas em muitos aspectos de sua criatividade e potencial pelo simples fato de a sociedade patriarcal esperar que a gente se rebaixe. Mas quando você vê uma mulher solando no sax, você entende que aquilo é possível – ou então tocar trombone, ou caixa… Isso é fundamental e vale para qualquer minoria ou segmento menos representado na sociedade”, reflete Maranda.

Precisamos expandir esse movimento de arte na rua e torná-lo cada vez mais plural”, completa a artista.

A pluralidade sonora dos grupos percussivos e fanfarras de Porto Alegre

A banda instrumental Bate & Sopra, que já tocou em outras edições do Honk! no país e atualmente grava o primeiro álbum – relembre a entrevista sobre o single Ventania –, participa do festival com repertório autoral, integrando uma cena plural de grupos ligados à cena das fanfarras e do Carnaval de rua de Porto Alegre, da qual também fazem parte o bloco Avisem a Shana que Sábado Vai Chover – que vai homenagear personagens do Castelo Rá-Tim-Bum em suas fantasias da noite de abertura –, o coletivo de trompetes Colmeia – formado por alunos do trompetista Gabriel Luzzi e percussionistas convidados – e o Bloco do Beijo.

Colmeia. Foto: Alexandre Garcia

O candombe – ritmo de raiz bantu que se consolidou na América do Sul, sobretudo no Uruguai, a partir da diáspora africana – ganha destaque com La Meteora, formado por sopros e percussão, e La Brasa Lunera – um dos dois grupos percussivos convidados do Honk!POA, ao lado do Maracatu Truvão, coletivo que há 19 anos apresenta a cultura musical pernambucana no RS.

La Brasa Lunera. Foto: Alexandre Garcia

Já o Cosmobloco apresenta sua estética interplanetária, combinando instrumentos de percussão e sopro com pernaltas, malabares, bambolês e pirofagia. O projeto nasceu de uma performance concebida em 2018 como trabalho de conclusão de Martin Weiler na graduação em Música Popular da UFRGS. No ano seguinte, a atriz Louise Pierosan ingressou no grupo para colaborar no desenvolvimento do caráter cênico do coletivo.

Cosmobloco. Foto: Roberto Peixoto

“Nos entendemos para além de uma fanfarra. Apresentamos um espetáculo em que o braço da música é tão forte quanto o braço da performance”, destaca Martin. O repertório traz somente músicas instrumentais, incluindo um fragmento de Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, imortalizada em 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick.

Nas apresentações de sábado, as fanfarras dividem a tarde com os grupos Bloco das Pretas, Pagode Nova Era e Sopro da Planetário.

No domingo, o cortejo do Honk!POA começa no Areal da Baronesa, com concentração às 13h30, e termina por volta das 20h30 na Rótula das Cuias.

Programação Honk!POA 2023

20 de abril (quinta-feira)
Roda de conversa “Como tornar o HONK! mais inclusivo?Do aquece à xepa”
Das 19h às 22h, no Museu do Trabalho (rua dos Andradas, 230)

21 de abril (sexta-feira)
Apresentações na Praça da Matriz (Centro Histórico)

14h30 – Bloco do Beijo (RS)
15h – Terno do Binga (MG)
15h30 – Bloconcé (RJ)
16h – La Meteora (RS)
16h30 – Fanfarra da Ponte (SC)
17h – Colmeia (RS)
17h30 – Belina Orkestar (MG)
18h – Bate & Sopra (RS)
18h30 – Calcinhas Bélicas (RJ)
19h – DeSkaReggae (SC)
19h30 – Estagiários Brass Band (MG)
20h – Cosmobloco (RS)
20h30 – Vai Quem Dá (SC)
21h – Avisem a Shana que Sábado Vai Chover (RS)
21h30 – Só Toca Bloco (RJ)

22 de abril (sábado)
Das 14h às 18h, em cada local:

Vila Planetário
Fanfarra da Ponte, Vai Quem Dá, Maracatu Truvão, Sopro da Planetário, DeSkaReggae

Ilha do Pavão
Gurizadaí, Colmeia, Belina Orkestar, Terno do Binga, Só Toca Bloco, Estagiários Brass Band

Morro da Cruz
Bloconcé, Bloco do Beijo, Calcinhas Bélicas, Avisem a Shana que Sábado Vai Chover, Bloco das Pretas, Pagode Nova Era

23 de abril (domingo)
Cortejo

13h30 – Concentração das fanfarras no Areal da Baronesa, encerramento por volta das 20h30, na Rótula das Cuias

Gostou desta reportagem? Garanta que outros assuntos importantes para o interesse público da nossa cidade sejam abordados: apoie-nos financeiramente!

O que nos permite produzir reportagens investigativas e de denúncia, cumprindo nosso papel de fiscalizar o poder, é a nossa independência editorial.

Essa independência só existe porque somos financiados majoritariamente por leitoras e leitores que nos apoiam financeiramente.

Quem nos apoia também recebe todo o nosso conteúdo exclusivo: a versão completa da Matinal News, de segunda a sexta, e as newsletters do Juremir Machado, às terças, do Roger Lerina, às quintas, e da revista Parêntese, aos sábados.

Apoie-nos! O investimento equivale ao valor de dois cafés por mês.
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Gostou desta reportagem? Ela é possível graças a sua assinatura.

O dinheiro investido por nossos assinantes premium é o que garante que possamos fazer um jornalismo independente de qualidade e relevância para a sociedade e para a democracia. Você pode contribuir ainda mais com um apoio extra ou compartilhando este conteúdo nas suas redes sociais.
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Se você já é assinante, obrigada por estar conosco no Grupo Matinal Jornalismo! Faça login e tenha acesso a todos os nossos conteúdos.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!

Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?