O “Pulso” incessante de Dessa Ferreira
Com nove faixas, Pulso reúne múltiplas facetas da cantora, compositora, multi-instrumentista e produtora musical Dessa Ferreira. O primeiro álbum solo da artista será lançado em duas noites, sexta-feira (21/7) e sábado (22/7), às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel.
“É um projeto que vem sendo plantado desde 2018 e que agora consigo trazer ao mundo. Ser a própria produtora musical é bom para colocar tudo de mim, mas também um desafio por estar tão imersa”, conta Dessa, que apresentará todas as músicas do novo trabalho – e inéditas – nos dois shows do espaço inaugurado em 2023 no Multipalco Eva Sopher do Theatro São Pedro.
Mais conhecida como cantora e percussionista, a integrante do grupo Três Marias também gravou guitarras no álbum. “Foi um instrumento que toquei mais na adolescência, até porque roubaram minha guitarra e não consegui comprar outra na sequência. Estou retomando essa relação com um instrumento que traz muitos timbres e espacialidades com os pedais, criando atmosferas que mesclam o contemporâneo e o ancestral”.
Nascida em Brasília em 1989 e atualmente vivendo entre São Paulo, Porto Alegre e a capital federal, Dessa destaca como um dos marcos de Pulso a graduação no curso de Música Popular da UFRGS, em 2018, cujo trabalho de conclusão incluiu gravações realizadas por meio de uma parceria da universidade com o estúdio Soma. os primeiros contatos com o Rio Grande do Sul, há mais de uma década, foram marcados por descobertas.
“Tinha aquela impressão de um estado europeizado, mas me deparei com diversas resistências, inclusive indígenas – apesar de eu saber que o Brasil é um território indígena, não ouvia falar muito. Entendi que, na verdade, o que não havia era uma valorização dessas presenças, mas elas existem e fazem arte”, contou Dessa em entrevista sobre o projeto Música Afro-Indígena Contemporânea, lançado em março e contemplado pela plataforma Natura Musical por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do RS (Pró-Cultura).
Outro momento decisivo foi a residência artística do Projeto Concha, promovida pela produtora Juba Cultural em 2019. “No convívio com outras mulheres artistas, fui ainda mais instigada a pensar minha carreira como cantora e instrumentista solo”, destaca a compositora.
Além de singles já lançados, o primeiro álbum solo de Dessa traz inéditas como Ser Tudo, parceria com a poeta Addia Furtado. “Compartilhamos uma história parecida de origens negras e indígenas apagadas, silenciadas. Ao mesmo tempo, temos essa identidade marcada em nossas trajetórias.” No refrão, Dessa canta: Tupinambá, Mandinga, Manajó/ Ser tudo/ Ser tantos/ Não ser de um povo só.
“A música fala um pouco dessa não identificação étnica. Sabemos das origens indígenas, mas não temos informações sobre quais povos, por conta dos processos de extermínio e apagamentos da colonização.”
Nas duas noites de shows no Teatro Oficina Olga Reverbel, Dessa estará acompanhada do músico nigeriano Ìdòwú Akinruli (bateria, percussões e voz), Dona Conceição (percussões, voz), Thais Lemos (contrabaixo e voz) e Wagner Menezes (guitarra).
As participações incluem Oderiê e Paula Posada, além de Bruno Amaral e Nina Fola, parceiros de Dessa em Dois Mundos. Na visão de Nina, “Dessa carrega o espelho da mãe ancestral, que reflete luzes no lugar da mulher preta e percussionista que muito ficou escanteado. Dessa não é outra, ela é eu e eu sou ela, somos”.
O álbum Pulso está sendo finalizado no estúdio Pedra Redonda, onde parte das faixas foi gravada. Quem assistir à Dessa no fim de semana terá acesso a uma versão digital do trabalho, que em breve estará disponível nas plataformas digitais.
Empolgada com a estreia solo, a artista vai encontrando o pulso exato para seguir experimentando a potência musical de suas raízes. “Tenho certeza de que esse trabalho vai ter continuidade, mas com a calma de entender que estou começando e posso ir devagarinho.”
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Show “Pulso”, de Dessa Ferreira
Quando: 21 e 22 de julho, às 19h
Onde: Teatro Oficina Olga Reverbel (Multipalco – Theatro São Pedro)
Endereço: Praça da Matriz, s/nº – Centro Histórico – Porto Alegre
Ingressos à venda
Recomendação etária: 14 anos
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sexta-feira, 21 a 22 de julho de 2023