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No andar do tempo, Thiago Ramil volta à calçada do mundo

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No andar do tempo, Thiago Ramil volta à calçada do mundo Foto: Fabrício Silva

Por conta da pandemia, o cantor e compositor Thiago Ramil precisou aguardar uma translação completa da Terra até subir aos palcos com seu mais recente álbum, lançado em abril de 2021 nas plataformas digitais. Depois de um show em Dois Irmãos no fim de maio, o músico apresenta O Sol Marca o Andar do Tempo e a Imensidão do Universo Todo Dia nesta sexta-feira (10/6), às 21h, no Agulha, em Porto Alegre, e em Caxias do Sul, no sábado (11/6), às 21h, na Casa Paralela.

“É uma expectativa misturada com ansiedade, quase como um novo lançamento”, conta Ramil, que apresentará a íntegra do trabalho ao lado de Bruno Coelho (percussão), Bruno Neves (bateria, baixo, MPC), Felipe Zancanaro (percussão, guitarra, MPC) e Lorenzo Flach (piano, guitarra). Os shows também terão a participação do músico João Ortácio e da bailarina Geórgia de Macedo, que atuou na concepção e performance dos quatro vídeos do projeto.

Capa do álbum: Carol Rosa

O álbum é fruto de quatro EPs, cada um deles remetendo a uma estação do ano e intitulado com um trecho do título geral. Combinando diferentes abordagens estéticas, as produções são assinadas por Felipe Zancanaro e Vini Albernaz (O Sol Marca), Guilherme Ceron (O Andar do Tempo), Pedro Dom (E a Imensidão do Universo) e Dessa Ferreira (Todo Dia). Os cinco produtores também participam do álbum como músicos.

Nas faixas de verão, Ramil mescla cavaquinho, percussão, beats e sintetizadores, numa aproximação entre elementos eletrônicos, vozes e instrumentos que remete às sonoridades de artistas como Juçara Marçal e Kiko Dinucci. A primeira canção, Janela do Rosto, tem letra e vocais de Thayan Martins: “Abro a janela do rosto e vejo/ A paisagem que me veste/ Enquanto danço com as nuvens/ Na calçada do mundo/ Meu lar é a rua/ A luz lá de casa é o Sol é a Lua”.

Foto: Geórgia de Macedo

A Pulga, Acúmulo e Manequim dão sequência ao flerte com o samba tendo como destaque os elementos percussivos de Dessa Ferreira e Gutcha Ramil – irmã de Thiago – e a participação da cantora Pâmela Amaro na canção que encerra o ciclo mais ensolarado do álbum – Dessa, Gutcha, Pâmela e Thayan integram as Três Marias com Tamiris Duarte.

A parte outonal do trabalho traz um clima mais nostálgico. Receita é marcada por inserções de frases ouvidas na infância por Ramil e Gabriel Kbça. Cheiro de Chuva amplia as colorações do outono com timbres de violão e rabeca, enquanto Marujo aborda despedidas. “Na época [2020], o pai do João Ortácio [parceiro na faixa] e o Aldir Blanc haviam falecido, e fiquei com aquela imagem: os marujos, o homem sábio do mar. O marujo planta memórias e essas histórias são contadas e cantadas nas embarcações, como o Aldir, que partiu e deixou muitas memórias para serem cantadas por outros navegares”, recorda Thiago Ramil.

Assim como Marujo, a primeira faixa invernal, Ser, remete a paisagens litorâneas – Ramil passou grande parte da pandemia vivendo em Tramandaí – e tem a participação do duo Alívio, formado por Bela Leindecker e Guilherme Becker. Gravidade tematiza a maternidade e as forças gravitacionais, e Roda fecha o inverno do álbum inspirada em um garoto fascinado por figuras circulares que Ramil – psicólogo, além de músico – conheceu em uma casa de acolhimento institucional.

A última e primaveril parte do álbum tem o violão de Ricardo Borges e a voz de Marissol Mwaba em Voltar a Voar, vocais de Gutcha Ramil em Das Oito às Oito e novamente Mwaba – com François Muleka, irmãos brasileiros de origem congolesa – em Aroma de Romã, faixa que marca o recomeço dos ciclos de O Sol Marca o Andar do Tempo e a Imensidão do Universo Todo Dia.

Os EPs visuais têm direção de Vini Albernaz (1), Lucas dos Reis (2), Isabel Ramil e Geórgia de Macedo (3) e Guilherme Becker (4), ampliando a constelação de encontros do projeto. Para costurar as imagens, Ramil contou com a atuação de Geórgia de Macedo, e para garantir a unidade sonora, o álbum teve mixagem de Leo Bracht (Transcendental Áudio, Porto Alegre) e masterização de Filipe Tichauer (Redtraxxmastering, Miami).

“Ao mesmo tempo em que há unidade, são blocos distintos, e qualquer ponto pode ser o início do trabalho. Essa circularidade se traduz no título do álbum – que pode ser lido em sequências diferentes – e no movimento de translação que mostra o passar do tempo através das canções”, observa o compositor, que buscou situar as músicas mais expressivas de cada estação na metade dos EPs e sugerir relações entre as estações na primeira e última faixa de cada bloco.

Na conversa sobre ciclos, Ramil coloca o álbum em perspectiva. Considera o trabalho o mais complexo de sua carreira e o projeto em que ele mais assumiu a direção geral, desde a elaboração do texto que acabou sendo contemplado por edital emergencial da Lei Aldir Blanc. O período pandêmico exigiu gravações à distância – um dos principais desafios da produção, sobretudo pela quantidade de artistas envolvidos.

“Tivemos que nos adaptar ao processo de gravação em casa, tratar da própria engenharia de captação de áudio e gravar sozinhos. O resultado que conseguimos no curto período de quatro meses que previa o edital é algo que me orgulha muito”, afirma o músico, que já foi indicado ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum Pop em Língua Portuguesa com Leve Embora (2015) – com o qual recebeu os prêmios Açorianos de Música de Melhor Intérprete Pop e Artista Revelação. Com o segundo álbum, EmFrente (2018), Ramil recebeu o Açorianos de Melhor Compositor Pop.

O show de lançamento de O Sol Marca… terá iluminação da artista visual Isabel Ramil – prima de Thiago –, ressaltando o vínculo entre sons, letras e imagens no processo criativo do músico: “A minha relação com as palavras vem muito das imagens que elas carregam, e as intenções dos arranjos também pintam quadros na nossa cabeça. Gosto de deixar imagens em aberto para quem se relaciona com a música também se projetar – e projetar novas imagens”.

Ao longo de 2022, além de apresentar o álbum recente, Thiago Ramil pretende lançar o single Pêssego e expandir o projeto de acalanto Sereno Canto, que ele desenvolve com o músico Raul Jung, unindo contação de história e canções de ninar, atualmente voltado a crianças em acolhimento institucional e da rede municipal de educação infantil de Porto Alegre.

Relembre a entrevista de Thiago Ramil a Roger Lerina publicada em 2021, no lançamento do EP O Sol Marca.

“O Sol Marca o Andar do Tempo e a Imensidão do Universo Todo Dia”, de Thiago Ramil

Quando: 10 de junho de 2022, às 21h
Onde: Agulha (rua Conselheiro Camargo, 300 – São Geraldo – Porto Alegre)
Ingressos à venda

Quando: 11 de agosto de 2022, às 21h
Onde: Casa Paralela (rua Tronca 3.483 – Rio Branco – Caxias do Sul)
Ingressos à venda

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