Meus presentes de Natal
Nós, os cancelados da mídia convencional, não podemos ter pudor.
Tenho dito. E repetido. A repetição faz diferença.
Editoras como a Todavia e Cia das Letras têm os jornalões de Rio de Janeiro e São Paulo como assessorias de imprensa e a Flip como vitrine.
A nós, os Sem Mídia, cabe a guerra de guerrilha.
Segue a minha lista de dez presentes de Natal para quem não se constrange de dar livros nem se decepciona ao recebê-los.
O livro, como tecnologia do imaginário multissecular, ainda faz sentido. Escrever é um modo de existir. Libera pensamentos que a fala nem sempre consegue expressar. A crítica literária modernista, que domina o Brasil, ainda não entendeu que algo mudou. Já não interessa tanto como se conta a história nem um padrão ouro único, mas quem conta o quê.
Em paralelo a isso, tudo isso é possível como aposta.
- Escola da complexidade/escola da diversidade: pedagogia da comunicação (L&PM), de Juremir Machado da Silva.
- Aniquilar (Alfaguara), de Michel Houellebecq.
- Comunicar é negociar (Sulina), de Dominique Wolton.
- Louis Vuitton, uma saga (L&PM), de Stéphanie Bonvicini.
- Campereadas – coração de pandorga (Libretos), de Paulo Mendes.
- De tudo fica um pouco (Zouk), de Léa Masina.
- Dibuk (Sulina), de Gilberto Schwartsman.
- Ser como eles (L&PM), de Eduardo Galeano.
- O Mistério Henri Pick (L&PM), de David Foenkinos.
- Machado de Assis, o cronista das classes ociosas (Sulina), de Juremir Machado da Silva.
Abro e fecho a lista como provocação. Não pretendo que essa estratégia vá abalar as listas de mais vendidos nem agitar o passo do Jabuti.
Aos que me perguntam com inocência onde encontrar tais livros, especialmente os meus, respondo candidamente:
– Já ouviu falar em internet?
Ainda pretendo ganhar o Nobel da literatura. Se isso acontecer, não sairá uma linha na grande imprensa brasileira. Minhas ambições são modestas e razoáveis. Jamais alguém poderá me acusar de megalomania. É comum que me acusem de ressentimento. Eu sou apenas um rapaz latino-americano, ouvinte de Belchior, que um dia me procurou, e leitor de Guy Debord, que não tive coragem de abordar num café de Paris, assim como não perturbei Jean-Paul Belmond e sua filhinha na bela Place Dauphine, no coração parisiense.
Debord cravou na sua tese dez: “O espetáculo não diz nada além de o que é bom aparece, o que aparece é bom”. O espetáculo, porém, não é eterno.
Utopista e boêmio, Debord teorizava a ultrapassagem do espetáculo a cada noite. Era um marxista com forte tendência anarquista. Acreditava na revolução. Pretendia acelerá-la com as suas “situações”, performances para chocar o espírito conformista burguês. Perdeu. A mudança vem por outros meios, por saturação, excesso, como pensava Jean Baudrillard.
O imaginário é o espaço da visão mágica da vida no cotidiano. Sem imaginário, a existência seria árida. É por isso que acredito em Papai Noel.
Acredito que é preciso fazer acreditar nele por alguns anos.
Creio também na força mágica da escrita plural.
Feliz Natal com alguma antecipação!
Ano que vem tem mais. Digo, mais livros na contramão.