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Porto Alegre encerra semestre com apenas 2 quilômetros a mais de ciclorrotas

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Porto Alegre encerra semestre com apenas 2 quilômetros a mais de ciclorrotas Ciclorrota na Lopo Gonçalves foi uma das três intervenções na malha cicloviária no primeiro semestre de 2023 | Foto: Tiago Medina

A um ano e meio do fim a gestão, prefeitura precisará construir 21 quilômetros de infraestrutura para bikes para cumprir promessa

Porto Alegre desacelerou o ritmo de implantações de novas ciclovias neste semestre. Depois de um ano em que elevou a média de construção dos trechos, os primeiros seis meses de 2023 chegam ao fim com apenas 1.995 metros de faixas para bikes, totalizando 79 quilômetros de infraestrutura cicloviária. A meta anunciada pelo prefeito Sebastião Melo (MDB) é alcançar 100 quilômetros de faixas para bikes até o fim do ano que vem, último ano do mandato da atual gestão.

De acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU), neste ano foram implantados três trechos de ciclorrotas, quando é feito uma pintura para uso compartilhado de bicicletas e automóveis, todas no bairro Cidade Baixa. Foram 719 metros na Rua Luiz Afonso, 376 metros na Lobo da Costa, além de 900 metros na Olavo Bilac. A SMMU destaca que, neste período, revitalizou 1.246 metros da ciclovia entre as avenidas Cel. Marcos e Oswaldo Gonçalves Cruz, na zona sul.

Aprovado em 2009, o Plano Diretor Cicloviário Integrado da Capital prevê 495 quilômetros destas vias. Em janeiro, o Matinal publicou um levantamento sobre a implementação de novos espaços para o tráfego de bicicletas. Apesar de 2022 ter sido o segundo ano em implementação, o ritmo de instalação ainda precisaria crescer para bater a meta de 100 quilômetros estipulada pela Prefeitura.

Questionada sobre os próximos trechos de malha cicloviária a serem instalados, a SMMU evitou informar para onde a infraestrutura deve se expandir. “Estamos em amplo diálogo com a comunidade através de encontros regulares para discutir os projetos previstos para implantar no segundo semestre, nas áreas Sul e Leste”, disse a pasta.

“Também trabalhamos em projetos afins com futuro financiamento através do Banco Mundial, ligado à Organização das Nações Unidas (ONU)”, complementou a secretaria. Em reportagem de março, o Matinal mostrou que todas as ciclovias construídas em Porto Alegre desde 2017 foram contrapartidas da iniciativa privada.

Comunicação precisa ser constante

Gerente de Mobilidade Ativa do WRI Brasil, Paula Manoela dos Santos ressaltou em entrevista ao Matinal que o ritmo de implantação de novas ciclovias pode ser lento. Conforme a especialista, a experiência de outras cidades sugere que não se trata de um processo ágil, em razão do tamanho da intervenção.

No entanto, ela salientou que, mesmo quando não há obras em andamento, é preciso atentar para a comunicação. “Existem outros mecanismos para dar continuidade numa estratégia, em especial nesta do Plano Cicloviário, que não é uma cultura enraizada na população. Precisa de comunicação constante. Se elas não estão avançando, se existe meta e a Prefeitura está comprometida, isso precisa ser comunicado para a população de diversas formas”, observou.

Ainda em 2022, o então presidente da Câmara e hoje líder do governo Melo na Casa, vereador Idenir Cecchim (MDB), apresentou projeto prevendo uma consulta pública a moradores e empresários das regiões onde novas ciclovias fossem instaladas antes de sua implementação. O texto foi aprovado por comissões no Legislativo e está na ordem do dia, esperando para ser votado, ainda que há quase um ano. A proposta já foi criticada pelo vereador e cicloativista Marcelo Sgarbossa porque pode representar uma barreira para novos trechos, já que muitos comerciantes reclamam que as vias para bikes tomam espaço de vagas para carros.

Ao longo do segundo semestre de 2022, além de um seminário a respeito, a Prefeitura realizou reuniões com grupos segmentados da cidade. Desses encontros, foi constatado que uma das principais demandas de quem utiliza as ciclovias é conectar os trechos já existentes entre eles e com o transporte coletivo, especialmente os terminais Restinga, Antônio de Carvalho, Triângulo e Farrapos.

“Um sistema que precisa ser planejado”

Quanto aos futuros trechos, Paula chama a atenção que não basta tão somente separar uma parte das ruas para as bicicletas passarem. É necessário atentar ao planejamento da via, a fim de torná-la integrada ao contexto da rua: “Coloquei no Google ‘carro estacionado em ciclovia em Amsterdã’. Não existe, mas não porque eles não têm esse costume, e sim porque as vias são desenhadas para que isso não aconteça”, citou.

“É todo um sistema que precisa ser planejado e por isso que essas conversas com as comunidades são tão importantes”, acrescentou a especialista. “A gente não pode instalar uma ciclovia na frente de um mercado e não esperar que o caminhão vá querer estacionar ali na frente.”

Segundo a gerente do WRI, o desafio dos governos é acomodar os integrantes do espaço da rua em um ambiente limitado. “Queremos  trazer as bicicletas, porque historicamente temos uma defasagem no fomento desta demanda. Mas trazê-la não significa excluir todo o resto que existe na cidade. Eles precisam ser reacomodados”, frisou. “Os governos precisam colocar todo mundo no mesmo espaço. Se não dá, entra a questão da velocidade. Aí o ciclista e o motorista vão poder entrar no mesmo lugar.”

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