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Ataques, denúncias e nova marca: uma semana de fortes emoções

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Ataques, denúncias e nova marca: uma semana de fortes emoções Nesta semana, lançamos nova marca e um manifesto

Começamos a semana com uma baita novidade: na segunda-feira, lançamos nossa nova marca. Junto, um manifesto no qual reafirmamos nosso compromisso com Porto Alegre. O slogan “Porto para quem se importa” resume o propósito do nosso trabalho, sentimento que identificamos também em quem nos lê e nos apoia.

Mal deu tempo de celebrar os lançamentos.

No mesmo dia, a manchete da nossa newsletter falava da repercussão do evento antivacina promovido na Câmara Municipal pela vereadora Fernanda Barth (PL) e noticiado por nós na semana anterior. As reportagens movimentaram as redes dos antivaxx, que logo após o evento já estavam espalhando desinformação.

O que vimos na sequência foram ataques ao repórter que cobriu o caso, Pedro Nakamura. Junto à Matinal, que está analisando as medidas cabíveis para combater esse tipo de assédio, entidades como a Associação de Jornalismo Digital (Ajor), o Sindicato de Jornalistas do Rio Grande do Sul e a Federação Nacional de Jornalistas repudiaram os xingamentos. Uma manifestação em especial nos comoveu. Veio de Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH).

Na quarta-feira, durante a cerimônia de lançamento do 40° Prêmio de Direitos Humanos de Jornalismo, promovido pelo MJDH em parceria com a OAB-RS, Krischke pediu licença para citar nominalmente Nakamura e a Matinal e manifestar sua solidariedade. “Além de ser muito triste, no século 21, um jornalista receber ameaças, é mais triste ainda pelo motivo, chega a ser ridículo”, disse. 

Não foi a primeira vez que atacaram Nakamura por uma reportagem publicada na Matinal. Ele também é autor da matéria premiada que revelou o uso irregular de proxalutamida no hospital da Brigada Militar, em Porto Alegre, em pacientes com covid-19, em 2021. Na época, o jornalista também foi perseguido nas redes e ameaçado antes mesmo da publicação por um dos médicos envolvidos na pesquisa. Depois da denúncia publicada, a Anvisa reviu normas de importação para pesquisas.

O nosso jornalismo tem impacto na cidade – e às vezes até fora dos seus limites, como no caso da proxalutamida. Esse tipo de comportamento lamentável – que nos últimos dias também teve como alvo o jornalista Eduardo Matos, ex-repórter do Grupo RBS – jamais vai nos calar. Do nosso lado, além das entidades de classe (e a ciência!), estão muitos colegas jornalistas, organizações movidas pelo mesmo valores que os nossos, e vocês, leitoras e leitores, que confiam no nosso trabalho.  

No meio desse turbilhão, também nesta semana publicamos uma reportagem assinada por mim que revelou relatos de abusos sexuais por um mesmo homem em Porto Alegre. A pauta chegou à redação pelas vítimas, que confiaram suas histórias a nós. O retorno que tenho recebido dessas mulheres é unânime: estão muito gratas por terem sido ouvidas. Depois de tantos anos de silêncio, se sentiram acolhidas e legitimadas em suas reivindicações. Querem justiça, mas também amparo.

Decidimos dar visibilidade a esses casos porque sabemos que, infelizmente, não se tratam de episódios isolados. Precisamos, como sociedade, falar sobre os abusos sofridos por crianças e mulheres, sobre como proteger nossos filhos e filhas e como mudar a cultura machista presente no judiciário.

No mesmo evento promovido pela OAB-RS, Roque Reckziegel, um dos coordenadores da Comissão de Direitos Humanos da ordem, destacou que, sem o trabalho dos jornalistas, as transgressões dos direitos humanos, nas mais diversas áreas, não viriam a público. E é por isso que não vamos ceder a ataques seja de onde vier. Seguiremos firmes com o nosso trabalho, pautado pela ética, pelo interesse público e pela defesa dos direitos humanos.


Marcela Donini é editora-chefe da Matinal.
Contato: [email protected]

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