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Museu do Hip Hop é orgulho para os gaúchos

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Museu do Hip Hop é orgulho para os gaúchos Espaço na Vila Ipiranga foi inaugurado no último domingo | Foto: Leo Zanini

A gente passa a semana apontando problemas na nossa capital e no estado. Faz parte do nosso trabalho, afinal, fiscalizar e cobrar o poder público. 

Mas eu quero aproveitar esta sexta-feira com cheirinho de fim de ano para destacar uma iniciativa que tem que encher todos os gaúchos de orgulho.

No domingo, foi inaugurado o Museu da Cultura Hip Hop RS, o primeiro da América Latina dedicado ao movimento. Vocês têm noção da grandeza dessa novidade? Visitei o espaço na quarta-feira, onde fui recebida pelo coordenador geral do projeto, Rafa Rafuagi, e contei com a mediação do museólogo Fúlvio Botelho.

Fotos: Marcela Donini

Com dois andares, o museu recupera a linha do tempo do movimento no mundo, no Brasil e no RS. Por aqui, a origem dessa história passa por um endereço conhecido dos porto-alegrenses: a Esquina Democrática, onde, nos anos 70, moradores pretos de diferentes bairros se reuniam para compartilhar novidades culturais. Na década seguinte, o ponto passou a se chamar Esquina do Zaire.

A exposição permanente apresenta os quatro elementos principais da cultura hip hop, que muita gente associa apenas à música. Junto dos rappers (ou MCs) e DJs, formam o movimento o breaking (dança de rua), o graffiti e o conhecimento, explica Fúlvio – segundo ele, o pilar mais importante.

Um exemplo que ilustra essa importância é a cartilha elaborada com o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), com informações sobre como foi o processo de construção do museu. O material será disponibilizado em janeiro de 2024 com o objetivo de fomentar iniciativas do gênero em outros estados brasileiros, organizando uma rede que constitua o Museu Brasileiro da Cultura Hip Hop nos próximos cinco anos.

Na cultura de rua, ainda cabem esportes típicos de espaços públicos, como o skate e o basquete, e outros cruzamentos, como movimentos sociais e a moda. Peças que pertenceram a personalidades conhecidas do hip hop fazem parte da exposição permanente. 

Há ainda um cantinho dedicado ao trem. Fúlvio explica: foi graças ao modal que hip hopers da região metropolitana puderam fazer intercâmbio com a turma da capital, e vice-versa. O projeto do museu, aliás, é uma iniciativa da Associação da Cultura Hip Hop de Esteio. As paredes desse ponto da exposição contam agora com intervenções deixadas pelo público no dia da inauguração, que reuniu mais de 2 mil pessoas.

No segundo andar, há um estúdio – que será comandado por Nitro Di –, uma sala para exibições temporárias – neste momento, com a história de 30 anos do grupo gaúcho Da Guedes – e uma biblioteca, a cargo de Mary Branchi. Foi o espaço que mais me encantou. Sou uma grande fã de bibliotecas. Neste ano redescobri o gosto por pegar livros emprestados (aproveito para recomendar que conheçam o trabalho lindo da Cirandar, uma ONG voltada a promover a literatura e a educação).

Mary Branchi

Leitora da Matinal, a bibliotecária Mary exibe orgulhosa os títulos que poderão ser emprestados ao público sem custo, provavelmente a partir de março. “São livros antirracistas e antifascistas, para todos os públicos, inclusive infantil”, citou, segurando o livro recém lançado por Negra Jaque, Linhas de cura – Ensaios sobre RAP, negritudes e outras formas de existir, um dos mais de 500 disponíveis no local (leia um trecho aqui). O espaço também está preparado para receber eventos, inclusive slams, outra manifestação artística que faz parte do movimento.

O Museu do Hip Hop tem muito mais. Vale a pena a visita, na Rua Pq. dos Nativos, 545, Vila Ipiranga, de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h. 

Pedido de natal

Quero agradecer aos leitores e leitoras que têm se engajado na nossa campanha de crowdfunding. Nesta semana, os apoios se aceleraram, mas precisamos de mais doações para bater a meta e garantir nossa operação no primeiro semestre de 2024. Ajude a compartilhar esta página e nossas peças no Instagram. E contribua com o que puder. Muito obrigada.


Marcela Donini é editora-chefe da Matinal.
Contato: [email protected]

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