Editorial | Revista Parêntese

Parêntese #209: Incomunicáveis

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Parêntese #209: Incomunicáveis Foto: Arquivo pessoal

Olá! Impossível abrir a news de hoje sem mencionar o sentimento de fim do mundo provocado pelo forte temporal que assolou o Rio Grande do Sul, especialmente Porto Alegre e região metropolitana, na noite de terça-feira. Na capital, por volta das 22h, passados apenas os primeiros minutos da tempestade, a luz acabou na maioria dos bairros. Em seguida, se foi o sinal de celular. Sem 3G, sem poder fazer ligações, sem poder mandar um SMS, ficamos isolados, em pleno século 21. Daí, aquela constatação que soa até meio ridícula: hoje em dia sem internet não somos nada. Que mundo avançado é esse que, em caso de catástrofe, fica incomunicável? 

Eu, que vivo defendendo uma vida um pouco mais desconectada, me vi aflitíssima quando acordei na quarta-feira e constatei a desconexão completa. Imagino que muita gente deva ter sentido o mesmo. Eu não tinha nem um radinho de pilhas para ouvir notícias. Não sabia nada sobre o que tinha acontecido no restante da cidade. Não sabia se minha família e amigos estavam bem. Tomei café pensando no que se fazia antigamente – antigamente, ali, 20 anos atrás. Ainda tínhamos telefones fixos com fio de cobre. A linha até podia ficar muda, mas minha memória me diz que isso era mais raro de acontecer. Acabava a luz, mas dava para telefonar, inclusive telefonar para a CEEE!

Então, resolvi sair de casa, ir até o meu pai, ver se ele estava bem, se a casa dele estava bem. No caminho, a tristeza sem fim de ver tantas árvores no chão. A cidade suja, varrida pela chuva e pelo vento. Toquei a campainha, ele ficou surpreso de me ver ali, naquela hora da manhã, de mochila nas costas e sacola nas mãos. Na casa dele tinha tudo o que um ser humano do século 21 precisa: eletricidade e internet. Porto Alegre Premium – como a ótima piada que circulou no Whatsapp nos últimos dias. Ele tinha o pacote completo para oferecer e fiquei aliviada. 

Em segundos meu celular se reconectou às redes. Notificações começaram a pipocar nos aplicativos. Entre as mensagens de “estão todos bem?”, também estavam demandas nada urgentes em um dia de caos. Bastou um minuto de reconexão para eu lamentar a minha falta de calma: eu deveria ter aproveitado um pouco mais e melhor quando estava incomunicável. Deveria ter relaxado, feito algo diferente, parado um pouco no tempo. Talvez essas tragédias também tenham o lado de nos mostrar que a vida que levamos não está bem certa. 

Esse já foi o terceiro temporal de 2024, e hoje é recém dia 20 de janeiro! Precisamos reaprender a passar um dia desconectados. Tudo bem suspender a rotina se o mundo lá fora está um caos. A pandemia supostamente deveria ter nos ensinado isso. Talvez, na quarta-feira, devêssemos ter saído às ruas para varrer, limpar a cidade, reconstruir o que veio abaixo. Mas, ao contrário, nos reunimos onde tinha luz, fizemos fila por tomadas porque precisávamos carregar nossos celulares, nos reconectar, trabalhar, produzir. Não é à toa que a natureza anda tão revoltada. 

*

Na edição de hoje, temos o penúltimo capítulo da série sobre os gays e a ditadura no Rio Grande do Sul. Nele, Jandiro Koch apresenta aos leitores e leitoras um pout-pourri de histórias e situações não convencionais, entre elas a primeira boate gay do Estado, a Flower’s, criada em 1971, e o caso Flávio Alcaraz Gomes. 

Renata Dal Sasso, que ano passado publicou na Parêntese uma série sobre o outono em Buenos Aires, retorna à capital portenha e relata as primeiras percepções do governo Milei. Segundo a autora, não é possível ignorar a semelhança entre o que está acontecendo na Argentina e o que aconteceu e vem acontecendo no Brasil e no mundo.

Também trazemos duas recomendações de leitura. Seguindo no clima dos hermanos, Guto Leite recomenda o livro de poemas de Fabrício Corsaletti, no qual o poeta faz o leitor imaginar o que Bob Dylan experimentaria se estivesse em Buenos Aires. A obra ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia e de Livro do Ano em 2023. Já Andréa Bonow dá a dica para quem já assistiu Oppenheimer e, assim como ela, ficou pensando no que aconteceu depois, em Hiroshima, quando a bomba foi explodida. 

Em seu segundo ensaio fotográfico direto da Amazônia, Alfredo Fedrizzi nos mostra um pouco mais da tribo Nukini, ou o povo da onça, e sentencia: ” Quem vai para lá constata que o manejo sustentável para a conservação da biodiversidade é feito por quem realmente protege a Amazônia: os povos da floresta.”

Luís Augusto Fischer se aproxima do fim da sua estada em Princeton, New Jersey, e na crônica de hoje relata uma experiência estadunidense raíz: uma visita à Atlantic City, terra de Donald Trump. Cassinos, piscinas artificiais, luzes piscantes e deixo o resto como surpresa para os leitores e leitoras. 

Para fechar, Juremir Machado da Silva, que já está de olho nas eleições de outubro. Será que Maria do Rosário é a melhor escolha do PT para disputar com Melo?

Boa leitura!

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