Carta da Editora | Eleições 2022

Bolsonarismo ou antipetismo?

Change Size Text
Bolsonarismo ou antipetismo? Melo cumprimenta Bolsonaro, ao lado de outros apoiadores do ex-presidente | Foto: Alan Santos/PR

Enquanto Eduardo Leite não sai de cima do muro, o prefeito Sebastião Melo declarou apoio ao presidente Jair Bolsonaro neste segundo turno. Disse que não estará ao lado do PT em nome de “sua história e princípios”. Filiado desde o início de sua trajetória política ao MDB, Melo esteve ao lado da turma que lutou contra a ditadura militar no final dos anos 70. Mas em 2022, parece que o apreço pela democracia ficou em segundo plano. O emedebista acaba de abrir seu voto para quem bradou nome de torturador no Congresso e não pensa duas vezes antes de mandar jornalista calar a boca.

Para que não reste dúvidas aos porto-alegrenses, seria importante Melo também deixar claro que outros princípios de Bolsonaro ele compartilha. Alguns estão explícitos na gestão da capital gaúcha. Assim que assumiu o Município, cumpriu com a promessa de campanha de reabertura total do comércio e ignorou os alertas do colapso da covid-19 que matou 1,5 mil em 3 meses, conforme reportagem do Matinal de abril de 2021. Além de ter distribuído na rede pública ivermectina, cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus. No campo da intolerância bolsonarista, sua proximidade pode ser ilustrada pela sanção da lei que proíbe o uso de linguagem neutra nas escolas, aprovada na Câmara de Vereadores em maio. 

Leite, por sua vez, prometeu para hoje uma posição em relação à eleição presidencial (aquela pela qual ele largou o governo do Estado mas cujo projeto naufragou e o trouxe até aqui, como candidato à reeleição, caminho que ele havia prometido não trilhar, diga-se). Em julho de 2020, no Roda Viva, quando o presidente já havia provado ser um péssimo gestor no combate à pandemia, Leite disse que não se arrependia do voto em Bolsonaro em 2018 porque “um retorno do PT seria muito ruim”. Um ano depois, chegou a admitir que errou e que não repetiria o mesmo erro. O tucano reiterou em diferentes entrevistas que seu apoio a Bolsonaro foi feito “com ressalvas”.

Causa maior

Se tivesse a grandeza de Simone Tebet (MDB), que entende que está em jogo algo muito maior que quaisquer “diferenças programáticas”, Leite poderia apoiar Lula “com ressalvas”. Tudo indica que não o fará. É mais provável que siga em cima do muro e aposte nos eleitores de Edegar Pretto que o consideram uma opção menos pior que o ex-ministro bolsonarista Onyx Lorenzoni. Tarso Genro está neste time e afirmou que é preciso “votar contra o candidato do fascismo”. Onyx, aliás, vai contar com a força do vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, que acaba de anunciar que vai se licenciar para abraçar sua campanha. 

Se a neutralidade pode custar a Leite votos nulos de quem aguardava um aceno à esquerda, por outro lado, não muda nada para aqueles eleitores convictos de que ele e Onyx representam a mesma direita. A política ambiental de Leite talvez seja o maior exemplo dessa proximidade, conforme mostramos em reportagem do Matinal. Além disso, Leite concretizou privatizações e nomeou secretários bolsonaristas.

Na saúde, apesar de criticar o negacionismo de Bolsonaro, cartilha seguida à risca por Onyx, Leite também recebeu críticas quando cedeu às pressões de prefeitos e empresários a favor das flexibilizações ao longo da pandemia. Mas felizmente a vacinação aqui avançou e jamais se viu qualquer autoridade do governo estadual questionando sua segurança – o mesmo na Capital, vale registrar. Ainda assim, os índices de vacinação contra outras doenças estão abaixo da meta, como em todo o País, o que só pode ser efeito do discurso negacionista de bolsonaristas.

Diferenças significativas entre os candidatos ao Piratini no segundo turno podem ser apontadas na cultura, área para a qual Onyx sequer tem propostas, justo em um momento pós-pandemia em que o papel do estado se faz fundamental, como destaca matéria do nosso repórter Ricardo Romanoff.

A ver o que decidirá Leite. Lembrando que hoje é recém dia 7, temos muito chão pela frente. Numa eleição na qual a campanha do segundo turno começou discutindo qual candidato tem pacto com o diabo, tudo pode acontecer.

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.