Editorial | Revista Parêntese

Parêntese #215: Cancelamento

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Parêntese #215: Cancelamento Foto: Stanislav Kondratiev/Pexels

O cara pensa “feira do livro” e, se não for uma pessoa muito fora de prumo, pensa em coisa boa, só coisa boa: praça pública, livros sendo oferecidos ao passante, ilustre ou anônimo, aquela latência, aquela iminência de alegria que a qualquer momento vai encarnar na forma de um saco de pipoca, de um livro comprado e desejado, de um encontro fortuito com outro leitor.

Isso é qualquer feira do livro.

Até que apareceu a Feira do Livro de Carlos Barbosa deste ano. Preparada com carinho pelo pessoal da Cultura da prefeitura municipal, a Feira trazia em seu ventre tudo isso e mais outro tanto, que viria com a presença dos leitores, dos alunos das escolas, das tias velhas, das mães e pais, de todo mundo que entra em contato com os livros. Os livros: promessas de um mundo mais amplo, mais complexo, mais humano.

O pessoal da Cultura tinha convidado para patrono o cineasta e escritor Boca Migotto. Nascido e criado naquela pequena cidade serrana, vivendo em Porto Alegre há tempos mas sempre em contato com aquele mundo, ele deve ter ficado muito feliz com o convite, porque ia reencontrar as esquinas de sua terra junto com ex-colegas de colégio, tudo isso imerso na atmosfera de sua majestade, o livro.

Aí apareceu uma pessoa fora de prumo, que deflagrou uma campanha suja, sórdida, cretina, autoritária, protofascista para inviabilizar a ida do Boca. A ideia foi constrangê-lo – e o constrangimento foi obtido. Envergonhado pela palhaçada, Boca Migotto renunciou ao convite que aceitara antes e teve a grandeza de publicar nas redes sociais uma Carta Aberta em que reflete sobre o caso todo.

Foi então que a Parêntese entrou em contato com o quase-patrono pedindo que escrevesse um texto para mapear o lamentável caso em que se viu metido. O patético caso de censura direitista contra um filho da terra – da extrema direita que prefere matar simbolicamente um filho da terra a deixá-lo voltar e divulgar sua arte, voltar e cumprimentar conterrâneos, voltar e simplesmente respirar o ar que o envolveu na infância e juventude.

Estampando seu texto e a Carta Aberta, a Parêntese quer dizer, singelamente, que está a seu lado, ao lado do livro, do esclarecimento, contra a estupidez.  

Ao lado dos textos do Boca, a favor da inteligência, muita coisa mais. No segundo texto da série sobre a Armênia, Daniel Scandolara narra a sua chegada no país e os encantamentos em descobrir os lugares, as pessoas e a cultura local. 

Renata Dal Sasso e Fernando Seffner mandam notícias de Buenos Aires. Dal Sasso comenta sobre a polarização dos discursos, enquanto Seffner analisa os efeitos da hiperinflação nas relações cotidianas na capital portenha. 

Se algum desavisado perdeu o terrível caso de racismo contra o motoboy Everton, agredido por um homem branco em Porto Alegre, Márcio Chagas da Silva retoma o caso e aprofunda sobre o tema. 

Já ouviu falar com rotacismo e lambdacismo? No texto de hoje, o professor de linguística Gabriel de Ávila Othero explica esses fenômenos – nem tão raros assim – da língua portuguesa. 

Juremir Machado da Silva reflete sobre a falação do futebol, a partir das suas experiências e do grande Umberto Eco.
Para fechar a edição, apresentamos algumas das fotografias que integram a mostra coletiva Expressões, com curadoria de Marcos Monteiro, que inaugura hoje na Galeria Ladeira, no pier da Usina do Gasômetro. 

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