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Emoções, dores e amores na pintura de Terê Finger

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Emoções, dores e amores na pintura de Terê Finger Têre Finger. Foto: Guilherme Kruger

Artista integra a exposição coletiva Passos sobre os abismos, em cartaz na Galeria Tina Zappoli

Quem acompanha o trabalho de Terê Finger provavelmente está familiarizado com suas figuras fortes e marcantes. Ela pinta retratos, mas não retratos hiperrealistas. Há, em suas pinturas, algo que vem da abstração, mas mais uma abstração dos sentimentos do que das formas. São quadros que contêm uma boa dose de emoção e sentimentos. Os olhares profundos e penetrantes das figuras dão o tom ao observador. 

Nascida em Flores da Cunha, em 1961, onde ainda hoje vive e trabalha, Terê graduou-se em educação artística na Universidade de Caxias do Sul, em 1985. Porém a conclusão da faculdade foi apenas a representação formal de algo que a artista já carregava consigo desde pequena. Ela conta que desenhava tudo o que via, e que seus registros de criança já eram uma tentativa de desenhar aqueles que a rodeavam. 

Na exposição coletiva Passos sobre os abismos, na Galeria Tina Zappoli, a artista apresenta um conjunto de pinturas produzidas entre 2018 e 2022. São retratos em diferentes escalas e dimensões, nos quais há um predomínio de tons mais pastéis e escuros. A paleta de cores confere às pinturas uma certa melancolia, ao mesmo tempo em que propõe um espaço de reflexão sobre as figuras retratadas. 

Acrílica e vinho sobre tela. Foto: Anderson Astor

Ao lado dos outros artistas que integram a mostra – Arlete Santarosa, Cabral, Marinho Neto, Jorge Leite, Itelvino Jahn e Gabriel Augusto – suas obras refletem o pensamento curatorial que amarra o conjunto da exposição: buscar os caminhos para atravessar os abismos do tempo presente. Na entrevista a seguir, Terê Finger fala sobre seu processo de trabalho, seus interesses e caminhos nas artes visuais. 

Como começou tua trajetória nas artes visuais?

Sempre fui engajada nas artes, seja desenhando, criando estampas para confecção de vestuário, dançando. Mas as artes visuais sempre foram minha maior preferência. Desde a infância, eu desenhava os rostos dos meus irmãos. Tinha muito trabalho, porque sou de uma família numerosa, de 14 irmãos. Minha mãe contava que eu era minuciosa e detalhista. Eu sempre gostei de desenhar e sempre soube que era isso que eu queria fazer quando fosse mais velha, ou melhor, quando eu me apropriasse do meu próprio eu. Levei tempo para me encorajar a mostrar meu trabalho, sempre achando que faltava algo. Hoje, aceito que é uma prática diária e que estarei sempre na busca da verdade e excelência. 

Como é teu processo criativo e quais são os teus materiais de trabalho? 

Me dedico todo dia ao meu processo criativo. Ele é motivado pelos erros e acertos e por muito trabalho. Eu sempre digo que eu não me inspiro, eu transpiro. É uma batalha diária. Procuro trabalhar com vários materiais, tintas, papéis, cola, serragem, pó de café, giz de cera, lápis pastel seco e oleoso; tudo que eu possa transformar em trabalho eu testo e uso. 

Como nasceram as obras que integram Passos sobre os abismos? De onde vem a inspiração para os teus retratos ou quem são as pessoas, os rostos que aparecem nas tuas pinturas? 

As pinturas apresentadas fazem parte de um conjunto de trabalho que venho desenvolvendo há dez anos dentro da minha trajetória. Procuro sempre levar algo de um trabalho para o outro, do anterior para o próximo. Sempre gostei de observar as pessoas, o seu comportamento. Gosto de fazer figura humana, nela eu desenvolvo meu processo. Meu trabalho não deixa de ser minha própria autorização de fazer um certo pacto poético com minhas vivências, viagens, muito do que filtro dos grandes mestres e das relações humanas. O afeto sempre foi um tema recorrente, o cuidar do outro sempre mexeu comigo. Penso que o amor regenera o humano. Gosto do desafio de transformar a realidade humana. Os rostos são parte disso, eu observo pessoas, aquelas que me dizem algo, eu as pinto com o meu olhar, e [essa pintura] é dada para o espectador se apropriar da imagem e dar o seu próprio significado. 

Acrílica sobre tela. Foto: Anderson Astor

Algumas das tuas obras têm um tom mais sombrio, melancólico. Isso tem a ver com os abismos aos quais a exposição Passos sobre os abismos faz referência? 

Desde sempre meus trabalhos foram um tanto sombrios e melancólicos, porque eu me aproprio do meu corpo como extensão das minhas emoções. Desde a infância gosto de pintar o mundo como eu imaginava ser melhor e acreditar que era possível, mas a melancolia era mais forte. Mas por vezes eles são festivos. Isso é fruto do meu jeito de ser, ou herança herdada da avó materna, que estampava no rosto essa imagem ora sombria e melancólica,  ora alegre. A escolha dos trabalhos para essa exposição tiveram sim essa relação com os passos sobre os abismos. 

Como atravessar esses momentos difíceis? 

Penso que estamos em uma virada histórica, de muitas mudanças e momentos difíceis, e por isso a arte tem um papel primordial nesse momento. Para ultrapassar isso, vai ter que ser pelo acolhimento, pelo amor. A arte é a esperança, um passo sobre o abismo, o desejo que o homem transcenda sua condição animal e chegue a alcançar o que ele tem de melhor dentro de si. Penso que o amor é a fonte regeneradora para superarmos os abismos. O amor é feito com arte e a arte é o amor, já não sei mais separar um do outro. E a melhor forma de ultrapassar os abismos é espalhar o que cada um tem de melhor como humano. 

Foto: Anderson Astor
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