Revista Parêntese

Parêntese 64: Rostos na cidade

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Parêntese 64: Rostos na cidade Foto: Gilberto Perin

Não é só porque a covid anda ceifando vidas e alegrias, mas vamos combinar que ela está esgotando nossas reservas de energia. Certo, tem cacas diversas e de variada escala – do negacionismo de dirigentes e gentes comuns ao pouco-caso do aglomerador –, mas tem o singelo fato de ser uma pandemia que não sabemos enfrentar. 

Podemos sonhar: daqui a meia geração, 2020 será lembrado como aquele estranho tempo em que a ciência ainda não tinha produzido a vacina e os remédios, que serão, então, acessíveis. 

O problema é que estamos nesse dia-da-marmota que já dura mais de 365 giros do planeta em torno do seu eixo, um 2020 que se recusa a ir embora. E enquanto isso vamos perdendo gente.

Há dez anos morria Moacyr Scliar, antes da pandemia que ele por certo teria ajudado a enfrentar, como um consciente médico de saúde pública. (Regina Zilberman o relembra, neste 64.) 

Há menos de uma semana faleceram Ludwig Buckup (lembrado aqui por dois ex-alunos, Ingrid Heydrich e Jan Karel Mähler Jr.) e Sandra Simon (evocada aqui em três sentidos relatos, de Renato Dalto, Cláudia Laitano e Loraine Luz). Buckup ajudou a inventar o Museu de Ciências Naturais e dirigiu a OSPA, sendo professor da UFRGS; Sandra foi uma jornalista de enorme talento. 

Ficam eles todos aqui conosco, em nosso coração: a Parêntese é sim um cantinho do mundo em que a gente chora os mortos sem vergonha alguma, e ainda aparece sempre mais alguém pra chorar junto.

Depois a gente enxuga as lágrimas e vai adiante.

A vida segue? Segue. Segue nos retratos que o Gilberto Perin dispõe, na revista e na rua, celebrando a vida. Na linda história do Ian Alexander, nosso entrevistado, um sujeito que faz a Austrália ser um inesperado ponto de referência para entender de novo este Brasil estranho.

Nas crônicas amargo-divertidas de Cláudia Tajes e do Antonio Tompinson, “jornalista participativo”, ambos falando do tormento-mor do Brasil, que eu não sei se preciso dizer quem é.

Segue no terceiro capítulo da saga pelos nomes dos edifícios, produto da divertida obsessão de Fernando Seffner; no segundo capítulo de nosso novo folhetim, em que a Nathallia Protazio acompanha as crianças numa saída até a feira-livre; no enésimo capítulo da sempre ilustrativa, informada e bem-humorada história da música em Porto Alegre, por Arthur de Faria. E na história do José Falero, agora debruçado sobre um tema que dói na alma de quem alguma vez já fumou: parar de fumar.

Como fecho a essa celebração, reproduzo aqui o último email que a Sandra me mandou, quando ela retornou à Zero Hora em fins de 2012, depois de 10 anos afastada para cuidar da saúde e da vida. Eu mandei um email saudando seu retorno, e ela respondeu assim: 

Oi, Fischer
Nossa, que honra essas boas-vindas vindas de ti. Obrigada!
Tou muito feliz de ter voltado, me sinto completamente devolvida ao meu chão. Impressionante como a tecnologia mudou em 10 anos, mudaram muitas pessoas, mudou o jargão dos editores (rentabilização de produtos multimídia…), mas, sentada no fundo da redação, na sala de reuniões, foi como se esse lapso de década fosse na verdade uma semana. E ficou muito claro para mim: essa sensação tem uma razão simples – estávamos fazendo ali o que não muda: ter ideias, discutir pautas, dar pitaco.
É estranho e não, ao mesmo tempo.

Obrigada por ter escrito.
Um beijo,
Sandra

– Luís Augusto Fischer

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