Foto: Polina Tankilevitch/Pexels

#180 | JULHO DE 2023

Imunologista e professora da UFCSPA escreve sobre a relação direta entre investimento e avanço no campo das ciências
Foto: Polina Tankilevitch/Pexels
Nunca a expressão “tempo é dinheiro” foi tão verdadeira quanto na Pandemia do SARS-CoV-2. Quando me perguntam o que, afinal, foi definitivo para a rapidez com que as vacinas foram desenvolvidas, sempre respondo: dinheiro. A pandemia foi um divisor de águas para o desenvolvimento de produtos biotecnológicos. E uma lição importante para todos nós, cientistas, investidores, líderes de governo e população. Porque mostrou que, se existe demanda para o desenvolvimento de alguma vacina ou medicamento, a quantidade de dinheiro investido é mais importante que o tempo.  Vamos examinar isso de perto. Para os cientistas, desenvolver significa criar uma molécula que não existia antes, e provar que funciona. Para órgãos regulatórios e para a indústria, isso se chama desenvolvimento pré-clínico. Porque depois que existe a chamada prova de conceito, há todo um caminho estruturado a percorrer – isso é chamado de desenvolvimento clínico. A primeira etapa existe em fluxo contínuo – que depende do investimento. Toda a ciência que existe só é produzida se há recursos. Quanto mais recursos investimos, mais conhecimento. Mais pessoas especializadas são formadas. Quando a pandemia foi decretada no início de 2020, esse processo já havia criado uma grande riqueza de informação sobre coronavírus diversos, outros vírus, vacinas diferentes, RNA, nanopartículas de lipídeos. A maioria desse conhecimento foi gerada no hemisfério norte, porque – você já deve estar vendo onde quero chegar – lá sempre existiu mais investimento em ciência. Lá são formados mais recursos humanos especializados. E lá existem mais empresas startups de biotecnologia, onde ideias novas são maturadas. Em menos de um dia, o vírus foi sequenciado, a estrutura identificada. Em alguns dias surgiram as propostas de abordagens para uma melhor vacina. E em poucas semanas, bilhões foram injetados na criação das novas moléculas. Tudo isso no hemisfério norte. Para os outros vírus que não estão matando milhões de pessoas no mundo inteiro, ou que apenas afetam pessoas no hemisfério sul, essas etapas continuam acontecendo, só que mais lentamente. Porque há menos investimento.  A segunda etapa – o desenvolvimento clínico, feito com testes em humanos – levava, antes da pandemia, em média dez anos. Isso porque são 3-4 etapas, cada uma com características diferentes, que custam mais à medida que progridem. Por exemplo, de modo geral, um estudo de Fase I, que avalia segurança, é rápido, precisa de poucos indivíduos, e custa alguns milhões de dólares. Já o Fase II, que avalia a melhor dose, precisa de mais pessoas, mais centros envolvidos, e custa dezenas de milhões. E o Fase III, que avalia eficiência comparada a placebo ou outras drogas, envolve dezenas de centros e custa centenas de milhões. Um não começa sem o outro terminar. E a cada fase há uma avaliação se o investimento vale ou não a pena, podendo entre as fases haver, portanto, intervalos dependentes de – adivinhe – questões principalmente financeiras. O montante de recursos investido no desenvolvimento de vacinas no ano de 2020 foi inédito: mais de 160 bilhões de dólares. Havia uma emergência mundial, uma necessidade objetiva de […]

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