Agosto de 1975. O ônibus leito subia a sinuosa BR-116 no trecho de Vacaria, onde deixava o Rio Grande e oficialmente adentrava o Brasil. O humorista Fraga, o desenhista Edgar Vasques e eu rumávamos para o distante Rio de Janeiro, onde pretendíamos apresentar nossa pequena editora e tentar e propor à “inteligentzia” brasileira um super ambicioso projeto: a realização de uma antologia brasileira de humor. Vivíamos a truculenta ditadura militar. Uma violenta censura assombrava as redações dos jornais em todo o Brasil e – curiosamente – a única “fresta” que havia para contestação do regime era o humor. Henfil, Ziraldo, Millôr, Fortuna, Claudius, Caulos, Miguel Paiva, vigiados e perseguidos pelo “sistema”, conseguiam ainda publicar nos jornais e revistas cartuns e textos que criticavam o regime. Acreditava-se que a sutileza do humor tornava-se impenetrável para os censores. Eles eram muito ignorantes. Porque só sendo ignorante alguém topava a sórdida tarefa de censurar. A crítica só se viabilizava na imprensa, na época, via humor. O semanário O Pasquim vendia um milhão de exemplares por mês (de vez em quando era apreendido e os seus colaboradores presos) e mais da metade dos livros da lista dos mais vendidos da revista Veja eram livros de humor.
Parêntese
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