Revista Parêntese

Parêntese #87: No lugar do outro

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Parêntese #87: No lugar do outro

Em meados do século 19, Porto Alegre tinha mais de vinte representações consulares. Era o tempo anterior à unificação alemã, o que fazia com que várias frações do mundo germânico precisassem manter alguma referência no exterior, em função dos milhares de imigrantes aqui chegados. Já em 1929, como se pode ler na Guia Pública, catálogo de telefones da cidade para este ano, eram 22 essas representações, dos vizinhos Uruguai e Argentina até a Dinamarca e a Rússia. 

Não sei se ao longo do tempo houve algum diplomata de país africano, mas é certo que muitas etnias daquele continente aqui viveram, na esmagadora maioria das vezes como pessoas escravizadas, sem direito nem a cidadania local, muito menos com direito a ser reconhecido como estrangeiro. 

E como pensar nas nações ameríndias que neste território viveram? Certo, elas não contavam com estados organizados, nem cogitavam usar passaporte. Indígenas por aqui deveriam se sentir estrangeiros? 

Sem esquecer que o Rio Grande do Sul pretendeu uma vez ser país. E como país que acabara de declarar sua independência, chegou a designar embaixadores para capitais vizinhas, como Montevidéu e Rio de Janeiro. 

Quem entre nós, no cotidiano da cidade, não conhece ao menos um uruguaio que para cá migrou, se aquerenciou, fez amizades e família?

O presente é um tempo de muita migração. Aqui na América do Sul temos conhecido essa mobilidade em números massivos, motivada por catástrofes sociais, políticas ou naturais, como vemos atualmente na Venezuela e no Haiti. 

E quantos brasileiros, mas de classes confortáveis, têm emigrado? Não há pessoa das nossas relações que não conheça um ou mais casos de gente próxima, parentes, amigos ou vizinhos, agora morando na Europa, na Oceania, na América do Norte. Todos virando estrangeiros.

Incrível não é a existência dessas multidões de pessoas, de carne, osso e direitos, se deslocando; incrível é que a gente não pense cotidianamente nos migrantes como um fenômeno central de nosso tempo.

Parêntese dedica seu número especial de agosto ao tema. Entrevistamos Mike Lorry Loudney Joseph, jovem haitiano vivendo em Porto Alegre, de volta ao convívio de sua família, e Cha Dafol, natural da França, com vivência muito significativa por Porto Alegre, lidando com pessoas que vivem na rua. Falamos também com Marília Meneghetti Bruhn, uma conterrânea nossa que tem se dedicado objetivamente a acolher imigrantes na cidade.

Eurico Salis oferece retratos de gaúchos de toda origem, e Giovana Fleck relata sua percepção da Holanda, onde agora vive. Já o Pablito nos traz uma entrevista em quadrinhos com o Embrima, ele chegou no Brasil em 2015 e veio da Gâmbia.

Quatro textos nos levam ao coração da experiência da vida em outro lugar. Álvaro Magalhães oscila entre Montevidéu e Brasília. Celso Gutfreind fala, num posto de gasolina de Porto Alegre, o francês que apurou em anos de vida em Paris. Fabienne Cuny olha a nossa cidade pela lente de uma sensível arquiteta formada na França. E Nathallia Protazio, pernambucana com experiência paulistana, evoca uma passagem dura pela Suíça.

Numa nova série, que começa agora, Denise Bottmann, uma das mais conceituadas tradutoras do Brasil hoje, medita sobre seu ofício mediante um relato de caso notável. 

A edição 87 traz ainda a nova colaboração de Arnoldo Doberstein, mapeando a história de Porto Alegre, e José Artur Castilho vem com o segundo capítulo do nosso novo folhetim, Entroncamento.

PS – Com o bate-papo feito com o Mike Lorry Loudney Joseph, iniciamos uma nova camada de comunicação, em parceria com a Cubo Play. Assine a revista e assista, nesta página, à conversa completa em vídeo.

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