Número cem é para contar
Alcançamos cem edições hoje. Uma Parêntese por final de semana chegou na caixa de e-mail de quem assina nosso conteúdo depois de quase dois anos de trabalho. Essa centena de envios também se fez ler por gente que acessou os assuntos compartilhados através das redes sociais e do site www.parentese.com.br. O trabalho é muito bonito de olhar no ritmo semanal, a cada sábado em que a revista digital chega aos leitores com o material que reunimos.
Mas tem uma outra coisa que dá pra fazer: pensar no conjunto. Porque é uma concepção que se faz bastante consistente no todo. Com seus erros e acertos se trata de uma produção intelectual coletiva que ajuda a dar permanência às ideias lúcidas nesse momento conturbado. Insistimos em tentar frear, fazer pausas que valorizem as questões da vida — com reflexão e elaboração — e depois as lançamos nesse mundo virtual tão acelerado. Faz sentido? No aspecto de resistir, sim.
A ideia reunida neste texto tem a simples intenção de aproveitar a efeméride da centésima edição para dar início a uma breve retrospectiva, que segue na semana que vem. Levantar uma parcela das ideias que colocamos para circular e que vale a pena retomar. Na primeira Parêntese, por exemplo, o editorial do Luís Augusto Fischer dava a linha do que queríamos:
“Cientistas, pensadores, testemunhas em geral, gente daqui e de outras partes desse mundo complexo escrevem, falam, contam, propõem. Porque a sociedade está viva, lutando por alternativas. E a Parêntese quer ser um fórum para fazer acontecer a melhor conversa possível sobre nosso tempo.
Teremos sempre um forte vínculo com Porto Alegre e o Rio Grande do Sul, o chão que pisamos, o lugar em que respiramos. Mas nosso desafio é manter a cabeça aberta para discutir tudo, de qualquer quadrante: nosso horizonte é o mundo”.
O que saiu desse caldo todo?
Pois saíram 100 (cem!) entrevistas. Um conjunto que pode ser facilmente encontrado no site da Parêntese, mas que preferimos listar para quem quiser ver a obra que se concebeu por nome, um a um. São os entrevistados com os respectivos links. O apanhado é um atalho fácil para ler ou reler a seção. Aqui vai em ordem alfabética, sabendo que a primeira entrevista aconteceu com a pesquisadora e professora Márcia Barbosa:
- Alix Georges – Haitiano, engenheiro de computação
- Amanda Costa – Astróloga há 40 anos
- Ana Rita Uhry – Arquiteta, trabalha no Médicos Sem Fronteiras
- André Lemos – Doutor em cibercultura na Université Paris Descartes
- Antônio Carlos Côrtes – Escritor, radialista e um dos criadores do Grupo Palmares
- Aparecida Villaça – Antropóloga
- Bebeto Alves e Carlos Sion – Músico e Produtor
- Bernardo Kusinski – Escritor
- Bruna Kalil Othero – Estudante de Letras, colabora em sites literários e culturais
- Carlos Alberto Faraco – O maior historiador da língua portuguesa vivo
- Carlos Bastos – Lenda do jornalismo brasileiro feito no Rio Grande do Sul
- Carlos Couto – Radialista que conta sua experiência sobre os anos 70
- Celina Alcântara (Partes I e II) – Professora de Artes Cênicas e doutora em Educação
- Célio Golin – Coordenador do grupo Nuances, militante LGBTQ+
- Cha Dafol – Artista nascida na França que transita entre música, cinema, fotografia e literatura
- Charles “Chuck” Martin – Norte-americano, fotógrafo e professor de Letras
- Cidinha da Silva – Escritora (entrevista: antologia de autoria negra)*
- Círio Simon – Professor em História da Arte e muralista, foi aluno de Aldo Locatelli
- Claudinho Pereira – Discotecário desde os anos 60 e participante na cultura pop de Porto Alegre
- Claudio Accurso – Professor de Economia, uma lenda viva na sua área no Brasil
- Colmar Duarte – Escritor, tradutor, idealizados da Califórnia da Canção Nativa
- Dalva Maria Soares – Escritora, doutora em Antropologia
- David Brookshaw – Professor aposentado da Universidade de Bristol, no Reino Unido
- Diego Moraes – Cientista político
- Eliane Brum – Jornalista e escritora
- Elio Carraveta – Preparador físico, autor de importantes livors na área
- Elza Soares – Cantora que dispensa apresentações
- Francisco Dalcol – Jornalista, atual diretor do MARGS
- Francisco Marshall – Professor helenista, tradutor, escritor, agitador cultural
- Gabriel Sanpêra – Escritor (entrevista: antologia de autoria negra)*
- Gerardo Caetano – Ex-jogador de futebol uruguaio
- Giba Assis Brasil – Um dos maiores montadores de filmes do Brasil, sócio da Casa de Cinema
- Gilardis Pandim – Linguista, ex-professora da Sorbonne
- Gonçalo Ferraz – Biólogo, pesquisador de populações animais, professor de UFRGS e poeta
- Gunter Axt – Doutor em História Social e secretário municipal de Cultura de Porto Alegre
- Hélio Schwartsman – Jornalista e colunista da Folha de São Paulo
- Henry Chmelnitsky – Presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação (RS)
- Horácio Dottori – Professor de Astronomia aposentado
- Ian Alexander – Professor de Literatura Inglesa na UFRGS
- Ismael Caneppele – Escritor, ator, cineasta
- Ivette Brandalise – Cronista, radialista, figura da televisão no RS
- Jacob Klintowitz – Crítico de arte, curador
- Jandiro Koch – Historiador e escritor
- Jeferson Tenório – Escritor
- João Carlos Brum Torres – Um dos mais importantes professores de Filosofia no RS
- Joel Kotkin – Pesquisador da história de cidade
- José Falero (entrevista 1) – Escritor
- José Falero (entrevista 2) – Escritor
- Juca Kfouri – Jornalista esportivo
- Júnior Maicá – Criador de O Bairrista
- Kristina Michahelles – Tradutora do alemão, dirige a Casa Stefan Zweig
- Laura Peixoto – Escritora e agitadora cultural
- Lauro Barcellos – Oceanógrafo e museólogo
- Lelei Teixeira – Jornalista
- Lélia Almeida – Escritora, pesquisadora e feminista
- Lizete Dias de Oliveira – Arqueóloga, historiadora e escritora
- Loma – Cantora
- Lúcia Verissimo – A memória dos Verissimo
- Lucía Tennina – Professora de literatura em Buenos Aires (entrevista: antologia de autoria negra)*
- Luis Artur Nunes – Diretor e autor de teatro
- Luis Fernando Verissimo – Escritor
- Marcelo Coelho – Cronista e jornalista
- Marcelo Medeiros Carvalho – Criador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol
- Márcia Barbosa – Professora da Física na UFRGS, batalhadora pela mulher na ciência
- Márcia Mura – Doutora em História de ascendência indígenas
- Maria Nazaré Cavalcanti – Professora de yoga e ex-atriz de teatro
- Maria Regina Pilla – Escritora e ex-exilada política
- Marília Meneghetti Bruhn – Psicóloga que acompanhou a vida de 183 haitianos ao Brasil
- Mário Magalhães – Jornalista e escritor de biografias
- Maurício Cruz – Inventor de um observatório lúdico
- Mike Lorry Loudney Joseph – Poeta e refugiado
- Mirna Spritzer – Professora de artes cênicas
- Nataniel Ngomane – Professor de Literatura em Moçambique
- Nei Lisboa – Músico
- Nelson Coelho de Castro – Músico e profeta
- Ondina Fachel Leal – Antropóloga
- Oswaldo Camargo – Escritor, intelectual do movimento negro
- Pabla – Companheira de Cassandra Rios
- Patrícia Gonçalves – Pesquisadora e integrante da Frente Quilombola RS.
- Paulo Coimbra Guedes – Professor de Letras e escritor
- Paulo Neves – Escritor e tradutor
- Paulo Raymundo Gasparotto – Jornalista, colunista social
- Rafa Rafuagi – Músico e propagador da cultura hip-hop
- Regina Zilberman – Professora de Literatura da UFRGS
- Renato Rosa – Marchand
- Ricardo Lísias – Escritor
- Roberto Menescal – Musicista, um dos mentores da bossa nova
- Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo – Sociólogo
- Rodrigo Mohr Picon – Comandante-geral da Brigada Militar
- Roger Machado – Treinador e ex-jogador de futebol
- Ronald Augusto – Escritor (entrevista: antologia de autoria negra)*
- Ruy Castro – Jornalista e escritor
- Sayonara Pereira – Bailarina e professora da USP
- Sérgio da Costa Franco – Historiador
- Sergio Faraco – Escritor
- Sirmar Antunes – Ator
- Stela Rates – Pesquisadora e docente na área da Farmácia
- Tânia Carvalho – Ex-apresentadora de tevê
- Tinga – Ex-jogador de futebol
- Tinhorão – Crítico musical falecido em 2021
- Tônio Caetano – Escritor, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura
- Valéria Barcellos – Artista militante pela visibilidade trans
- Vítor Ortiz – Gestor em Cultura, autor e pesquisador
*Ronald Augusto, Cidinha da Silva, Gabriel Sanpêra e Lucía Tennina participaram na mesma entrevista
Em algumas edições montamos Operações que também podem ser relembradas num clique: Ricardo Piglia, Belchior, José Falero, Nelson Coelho de Castro, Sérgio da Costa Franco. Outras vezes fizemos homenagens às perdas de Elton Manganelli, Paulo José, João Acaiabe, Contardo Calligaris, Gelson Radaelli. O músico Astor Piazzola recebeu um salve pelos 100 anos de aniversário e Rodrigo Breunig trouxe suas ideias a respeito dos leitores de Machado de Assis, nosso gênio.
Tem ainda uma quantidade grande de materiais importantes. Por exemplo?
A pesquisa que o Arthur de Faria desenvolve com sua série Porto Alegre, uma biografia musical. Claro que o Arthur participou com outras ideias na Parêntese, mas a biografia musical da cidade é uma enciclopédia dos anos e anos dessa bela história. Tudo isso contado de um jeito muito particular e marcante. A produção desses textos está aí a ponto de ultrapassar os setenta capítulos.
Outra coisa que marcou foi a coleção de termos como caucus, alt-right, antifa, sociopata, consequencialismo, afrofuturismo. Lembra disso? Todos fizeram parte da coluna que a Cláudia Laitano intitulou A palavra é… . A seção definiu, explicou e exemplificou termos que se espalharam rapidamente pelas redes sociais no Brasil e no mundo. Confere ali no link pois vale a pena.
E o Pablito Aguiar? Pois com ele temos o Fala que eu desenho, um conjunto de entrevistas em quadrinhos que já ilustraram 38 edições. O Pablito que já apareceu no Fantástico, que vem alcançando conquistas consecutivas e que recebeu palmas de gente de peso como a genial Laerte. Fala com o Pablito que ele desenha, pode ter certeza.
Outra linha, ainda no tema dos quadrinhos, é a de Vinicius Rodrigues. O Vinicius colabora com seus ensaios na seção Quadrinhos em revista e tece comentários sobre artistas e obras envolvendo o tema, um assunto que é o da sua predileção e estudo.
Em termos de ilustrações, cartuns e tirinhas a lista pode seguir aumentando. As participações mais frequentes estão na conta da Grazi Fonseca e sua série Hay; do Alisson Affonso; do Edgar Vasques, que colaborou de diversas formas, em especial com este ensaio gráfico e com a série Os locais (série esta que tem texto do Luís Augusto Fischer). Dá para acrescentar na conta dos desenhos a bela Cidade nanquim de Eloar Guazzelli e a participação da dupla David & Cousandier.
Alguns temas que ganharam relevo em espaços como o Para rir com o cérebro e a Enciclopédia urgente. Curiosidades apareceram com os muitos dos nomes de prédios reunidos pelo Fernando Seffner e novas percepções se fizeram ver pela organização da Karina Lucena no Tradutores pensam a tradução.
Na filosofia tivemos um passeio por autores e autoras junto a Eduardo Vicentini de Medeiros. Nessa brincadeira inventiva foram dez capítulos em Até que a razão os separe e outros dez em Até que a imaginação os separe, textos presentes em Filosofia na vida real.
Querem mais? Pois na conta de Arnoldo Doberstein temos os 250 anos de Porto Alegre, um resgate da memória. Memória que é uma seção abrangente, mas que não para de nos conectar com o que já se viveu. E foi trabalhando com o passado que aconteceram os textos de Nilza Rezende ou então os de Alice Dubina Truzs, autoras que trazem aspectos distintos mas que usam as gavetas da história como fonte de descobertas. Antonio Padeiro anda nos presenteando com suas Memórias de porteiro dos tempos do Garagem Hermética, coisa dos anos noventa. E se formos olhar mais para trás, então surgem nomes como o de Julia da Rosa Simões, Gunter Axt e Frederico Bartz, que escreveram textos que cabem nos Mistérios parciais de Porto Alegre.
A lista de links acima é realmente grande, eu sei. Dá muito o que ler. Por isso você pode voltar neste texto quando bem entender a fim de retomar a série de assuntos que estão sendo citados. Até porque ler é o que a gente quer e gosta de fazer.
Já que falamos em ler, foi esse estímulo que nos mobilizou a elaboração de uma enquete. Não sei se você chegou a acompanhar, mas nela se perguntava sobre os mais importantes romances brasileiros dos últimos vinte anos. Reunimos respostas de gente que convidamos a votar. Livros e escritores eleitos resultaram em uma reflexão que rendeu inclusive a opinião de alguns autores.
E a seção Folhetim? Temos! Essa ideia rendeu quase sete folhetins até agora. Digo “quase sete” porque um dos autores desistiu no meio do caminho. Então contamos até agora com seis publicações. O folhetim de Caue Fonseca (que está com seu Cefaleia Cervicogênica em andamento) e os outros de Pieta Poeta, Nathallia Protazio, Marcelo Silva, Julia Dantas e Rafael Escobar. Logo adiante vem mais.
E não dá pra dizer que faltaram recomendações nessa centena de edições. Foram tantas com o Roger Lerina que haja anotação para tanta dica boa!
Por fim quero destacar um nome: José Falero. Essa preciosa mente que já publicou o romance Os supridores (2020) e agora tem mais um livro com as crônicas publicadas aqui na Parêntese: Mas em que mundo tu vive? (2021). Falero deu entrevista e fez entrevista. Ele também colocou a mão na massa na hora de fazer reportagens, editou, ajudou com ideias a cada trabalho feito. Tem muito Falero na Parêntese.
Encerro aqui esse texto de menções, citações e hiperlinks e com ele deixo uma pontinha de compromisso para o próximo sábado. Na edição 101 faremos o mesmo com ensaios de fotos, cronistas, revistas Parêntese em PDF e demais assuntos que possam interessar a quem nos acompanhou até este momento. Afinal, retrospectivas também apoiam a nossa capacidade de lembrar: o que fizemos e como podemos continuar fazendo.
Até o sábado seguinte e obrigado! Uma, duas…cem vezes.
A continuação deste levantamento pode ser lida neste link.
Ângelo Chemello Pereira estuda literatura e participa na revista Parêntese.